Ceratoconjuntivite seca canina: causas, sintomas e tratamentos do olho seco em cães

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Por Joe Oliveira   Tempo de leitura: 9 minutos

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ceratoconjuntivite canina

A ceratoconjuntivite seca canina (CCS), popularmente conhecida como olho seco em cães, é uma das doenças oculares mais comuns na medicina veterinária.

Segundo uma revisão de literatura do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário CESMAC (Maceió, AL, Brasil), a CCS pode ocorrer de duas formas principais:

  • quando há redução na quantidade de lágrimas produzidas.
  • quando a qualidade da lágrima é alterada, favorecendo sua evaporação rápida e o consequente ressecamento.

O segundo tipo é bastante comum em cães de focinho achatado, como Pugs e Bulldogs, que muitas vezes não conseguem fechar completamente as pálpebras, deixando os olhos mais expostos e vulneráveis.

Além disso, alguns procedimentos, como a remoção da glândula da terceira pálpebra, podem favorecer o surgimento da CCS em poucos meses.

Agora que você já conhece o que é a ceratoconjuntivite seca canina (CCS), a seguir, vamos aprofundar o entendimento sobre como essa doença se desenvolve, o que a causa, quais são os sinais que indicam sua presença e como tratá-la.

Patogenia: como a ceratoconjuntivite seca canina se desenvolve

Na ceratoconjuntivite seca canina (CCS), o que acontece é uma falha progressiva nos mecanismos que mantêm a superfície ocular saudável.

Quando há alteração na quantidade ou na qualidade das lágrimas, o filme lacrimal deixa de cumprir adequadamente sua função de proteger e hidratar a superfície ocular.

Essa deficiência desencadeia uma série de eventos patológicos:

  • Inicialmente, ocorre o ressecamento da córnea e da conjuntiva, levando a um estado de inflamação crônica.
  • A inflamação fragiliza os tecidos oculares, tornando-os mais susceptíveis a infecções secundárias.
  • Sem intervenção, podem surgir feridas na córnea (úlceras), que aumentam ainda mais a dor e o desconforto.
  • Nos quadros mais graves e avançados, há risco de perda progressiva e irreversível da visão.

Por isso, é fundamental compreender como essa proteção natural funciona. O olho seco em cães não representa apenas um desconforto, mas pode ser o início de um processo progressivo que compromete seriamente a saúde ocular do animal.

Causas da ceratoconjuntivite seca canina

De acordo com estudos, a causa mais comum da ceratoconjuntivite seca canina (CCS) é a imunomediada, ou seja, quando a própria defesa imunológica do organismo ataca tecidos saudáveis — neste caso, as glândulas lacrimais.

doenças oftamologicas em cães

Esse tipo de causa representa cerca de 80% dos casos (CUNHA, 2008). Nesses casos, o sistema imunológico do cão ataca e destrói progressivamente as glândulas lacrimais, reduzindo ou até eliminando a produção de lágrimas.

Além da causa imunomediada, outras condições podem contribuir para o surgimento ou agravamento da CCS, como:

Causas iatrogênicas

As causas iatrogênicas são aquelas provocadas involuntariamente por procedimentos médicos ou intervenções humanas. No caso da CCS, incluem:

  • A remoção da glândula da terceira pálpebra, procedimento realizado em casos de prolapso glandular (cherry eye).
  • O uso de medicações com potencial tóxico para o tecido glandular, como sulfonamidas ou certos anestésicos.

Alterações estruturais

As alterações estruturais são anormalidades congênitas ou adquiridas que afetam a anatomia das glândulas lacrimais e prejudicam a sua função. Entre elas:

  • Aplasia (ausência congênita da glândula).
  • Hipoplasia (subdesenvolvimento).
  • Atrofia (perda progressiva de função).

Condições sistêmicas

As condições sistêmicas são aquelas que afetam todo o organismo e não apenas o olho, podendo impactar direta ou indiretamente a produção lacrimal, causando:

  • Doenças infecciosas, por exemplo, a cinomose, que danifica diretamente as glândulas lacrimais.
  • Causas neurogênicas, quando há comprometimento do nervo facial ou outras estruturas neurológicas associadas à função lacrimal.

Fatores que podem desencadear ou agravar

Outros fatores que podem desencadear ou agravar a CCS incluem:

  • Traumas oculares ou cirurgias na região oftálmica.
  • Exposição ambiental adversa, como vento forte, poeira e poluentes, que aumentam a evaporação do filme lacrimal.
  • Deficiências nutricionais, como a hipovitaminose A, que prejudica a saúde da superfície ocular.
  • Doenças hormonais, como diabetes mellitus e hipotireoidismo.
  • Fatores genéticos, principalmente em raças predispostas (que abordaremos mais adiante).

Embora a idade avançada possa favorecer a disfunção lacrimal, é importante reforçar que a CCS não ocorre apenas em cães idosos.

A doença também pode afetar cães jovens, especialmente quando há uma predisposição genética ou determinadas condições de saúde envolvidas.

Sintomas da ceratoconjuntivite seca canina

ceratoconjuntivite seca canina

Os sinais clínicos da ceratoconjuntivite seca canina podem variar conforme o grau de evolução da doença. Se é aguda ou crônica, ou ainda se acomete um ou ambos os olhos (unilateral ou bilateral).

Em casos de dor ocular aguda, o cão pode desenvolver úlceras de córnea, que, se não tratadas, podem evoluir para complicações mais graves, como:

  • formação de estafiloma (protuberância na córnea);
  • prolapso da íris (deslocamento da íris para fora);
  • fotofobia (sensibilidade à luz).

Contudo, a forma mais frequente é a crônica, com sinais iniciais como:

  • olhos vermelhos, inflamados e irritados;
  • secreção ocular espessa, mucoide ou mucopurulenta;
  • conjuntivite bacteriana secundária;
  • coceira intensa e piscar excessivo;
  • sensibilidade à luz (fotofobia);
  • dificuldade para abrir os olhos e sinais de dor ocular.

Esses sinais indicam que o filme lacrimal está comprometido, causando desconforto e predispondo a lesões mais graves.

Doenças com sinais e sintomas semelhantes

Algumas doenças oculares podem apresentar sinais clínicos semelhantes aos da ceratoconjuntivite seca canina (CCS), o que pode gerar confusão no diagnóstico. Entre as principais estão:

Conjuntivite infecciosa

Também causa vermelhidão e secreção, mas está geralmente associada a infecções bacterianas ou virais, e não à insuficiência de produção lacrimal.

Uveíte

Provoca dor intensa e opacidade ocular, mas afeta principalmente as estruturas internas do olho, como íris e corpo ciliar.

Glaucoma

A doença pode causar dor e vermelhidão, mas está relacionada ao aumento da pressão intraocular, e não à alteração da produção lacrimal.

Úlcera de córnea

Pode ser tanto uma complicação da CCS como uma condição independente, apresentando sinais como dor, secreção e opacidade da córnea.

Por serem doenças que podem provocar sintomas muito parecidos, é indispensável a avaliação veterinária para estabelecer o diagnóstico correto.

Especialmente com a realização do teste de Schirmer, exame específico que mede a produção lacrimal e ajuda a diferenciar a CCS de outras enfermidades oculares.

Grupos e fatores de risco da ceratoconjuntivite seca canina

A ceratoconjuntivite seca canina é uma oftalmopatia frequente, especialmente em pequenos animais.Estudos indicam uma incidência de aproximadamente 1% na rotina clínica veterinária (ASTRAUSKAS; CAMARGOS, 2013).

Embora qualquer cão possa desenvolver CCS, algumas raças possuem predisposição genética maior, principalmente aquelas com:

  • focinho achatado (braquicefálicos).
  • fenda palpebral mais exposta, favorecendo a evaporação do filme lacrimal.

Entre as raças mais predispostas, estão:

  • Boston Terrier;
  • Bulldog Inglês;
  • Cocker Spaniel Americano;
  • English Springer Spaniel;
  • Pug;
  • Pequinês;
  • Schnauzer Miniatura;
  • Samoieda;
  • Shih Tzu;
  • West Highland White Terrier;
  • Yorkshire Terrier.

Além das raças, outros fatores de risco importantes incluem:

  • Idade avançada – com o envelhecimento, há maior risco de disfunção das glândulas lacrimais.
  • Histórico de infecções, como a cinomose, que pode comprometer diretamente as glândulas.
  • Doenças imunomediadas, que afetam o sistema imunológico, favorecendo a destruição do tecido glandular.
  • Exposição ambiental constante a agentes irritantes, como poeira, vento ou poluentes, que aumentam a evaporação das lágrimas.

Progressão natural e complicações da ceratoconjuntivite seca canina

ceratoconjuntivite seca cães

Se não for tratada adequadamente, podem surgir complicações graves, como:

  • Ceratite progressiva: inflamação crônica da córnea.
  • Blefarite: inflamação das pálpebras.
  • Dermatite periocular: inflamação da pele ao redor dos olhos.
  • Blefaroespasmo persistente: piscar involuntário e frequente.
  • Ressecamento do nariz e da cavidade oral do lado afetado.

Com o agravamento, a córnea pode se tornar opaca e ressecada, aumentando significativamente o risco de úlcera de córnea e perda parcial ou total da visão.

Como tratar a ceratoconjuntivite seca canina?

De modo geral, o tratamento da ceratoconjuntivite seca em cães (CCS) é contínuo e visa principalmente estimular a produção de lágrimas, proteger a superfície ocular e evitar complicações.

O tratamento pode ser dividido em duas abordagens principais:

Tratamento medicamentoso

Inicialmente, o tratamento mais indicado é o tópico, com foco na reposição e estimulação da produção lacrimal (MARCONATO, 2017). As principais abordagens incluem:

  • Imunomoduladores tópicos – estimulam a produção lacrimal e reduzem a inflamação autoimune.
  • Lágrimas artificiais – soluções lubrificantes oculares para uso regular, substituindo componentes do filme lacrimal e aliviando o ressecamento.
  • Pomadas oftálmicas veterinárias – auxiliam no controle da infecção e da inflamação.
  • Colírios antibióticos ou antivirais – os colírios são indicados conforme a necessidade, especialmente em casos de infecções secundárias.
  • Anti-inflamatórios – prescritos com cautela pelo médico-veterinário, principalmente quando não há úlceras de córnea.

Esses tratamentos são fundamentais para evitar a progressão da doença e preservar a visão do cão.

Tratamento cirúrgico

Em casos refratários — quando não há resposta satisfatória ao tratamento medicamentoso — ou em quadros muito graves, pode ser indicada a realização de um procedimento cirúrgico, chamado transposição do ducto parotídeo.

Esse procedimento desvia o ducto da glândula salivar para o olho, fazendo com que a saliva atue como lubrificante natural. (ORIÁ et al., 2010).

Essa cirurgia pode reduzir a necessidade de uso contínuo de colírios e proporcionar uma melhor qualidade de vida ao cão.

Prevenção da ceratoconjuntivite seca canina

Embora não seja possível evitar causas genéticas ou autoimunes, algumas medidas podem minimizar riscos e retardar a progressão da CCS:

  • manter o cão longe de locais com vento forte e poluição.
  • evitar o uso indiscriminado de medicamentos com potencial lacrimotóxico.
  • realizar consultas oftalmológicas periódicas.
  • observar sinais iniciais de ressecamento ocular.
  • cuidar da saúde geral e prevenção de doenças sistêmicas, como a cinomose.

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Por Joe Oliveira

Redator

Sou jornalista desde 2016 e vivo cercado pelos meus pets! Sou pai do Zé e do Tobby, um Shih Tzu e um Vira-lata, da Mary, uma gatinha branca, e do Louro, um papagaio (claro!). Escrevo para Cobasi ajudando outros tutores a cuidar dos seus pets.

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