
Mudanças de comportamento são o principal indicador de dor em gatos. Quando o animal deixa de agir como de costume, esse pode ser o único sinal visível de que algo está errado.
Gatos escondem a dor por instinto de autopreservação. Um traço herdado dos antepassados selvagens, que evitavam demonstrar fraqueza para não se tornarem alvos de predadores. Mesmo após a domesticação, essa herança comportamental permanece.
A dor felina é silenciosa, mas não invisível. Os sinais costumam surgir em atitudes discretas: um salto que deixa de acontecer, um miado fora do tom habitual, um olhar retraído.
Com atenção, é possível reconhecer o sofrimento antes que ele evolua para um quadro grave. Aprender a identificar a dor silenciosa em gatos é essencial para agir a tempo e garantir o bem-estar do animal.
A seguir, entenda o comportamento de gato com dor, com sinais validados por estudos sobre comportamento felino e bem-estar animal, que ajudam a identificar quando é hora de procurar ajuda veterinária.
Como tutor, você é quem melhor conhece o comportamento do seu gato. Se você quer saber como saber se o gato está doente, a dica é observar mudanças na rotina, no apetite e na interação.
Pequenas alterações — como evitar o toque, dormir mais do que o habitual ou se esconder — podem ser os primeiros indícios de dor ou doença.
Por isso, quanto melhor você conhece o temperamento do seu gato, maior a chance de perceber precocemente quando algo está errado.
Se o seu pet demonstrar qualquer um dos sinais a seguir, o ideal é buscar avaliação veterinária o quanto antes.
Gatos com dor evitam subir, correr ou pular. Essa limitação é comum em casos de comprometimento físico em gatos, como inflamações, traumas, dores articulares ou doenças musculoesqueléticas, como a osteoartrite felina.
As alterações na mobilidade tendem a ser sutis: hesitar antes de pular em móveis, usar apenas parte das escadas ou andar com rigidez já são sinais de alerta. Mesmo sem vocalizar, o gato demonstra dor ao limitar seus movimentos naturais.
Fazer as necessidades fora da caixa não é exclusivamente um problema de comportamento. Este sinal pode indicar dor física associada ao trato urinário ou ao sistema musculoesquelético.
As principais causas incluem:
Alterações no hábito de eliminação podem surgir quando o animal sente dor ao agachar ou entrar na caixa, ou associa o local ao desconforto durante a micção.
A aversão também ocorre em quadros de inflamação vesical, muito comuns em situações de estresse, como mudanças na rotina ou ambiente.
A parada repentina da autolimpeza é um sinal clássico de dor silenciosa em gatos.
Segundo estudo da UFRGS (LUME, 2022), lesões orais e limitações físicas estão entre as principais causas da perda de “higiene pessoal” em gatos, especialmente quando associadas à dor crônica ou restrição de movimento.
As principais causas clínicas comuns incluem:
Além da interrupção da autolimpeza, é fundamental manter atenção a sinais clínicos associados que podem reforçar a suspeita de dor silenciosa:
Esses sintomas, quando combinados à falta de higiene, fortalecem a hipótese de condições como doenças periodontais, inflamações musculoesqueléticas ou distúrbios sistêmicos.
Gatos com dor podem miar mais do que o normal, mesmo na ausência de estímulos aparentes como fome, estresse ou demanda por atenção.
Nesses casos, a vocalização funciona como uma forma de expressar dor crônica ou aguda, incômodo ou desconforto interno.
As alterações podem envolver mudanças na intensidade, na frequência ou no tipo de som, especialmente à noite ou em ambientes silenciosos, quando a percepção da dor tende a se intensificar.
Segundo Ley e Seksel (2015), sons emitidos com a boca fechada, como o ronronar, normalmente estão associados ao relaxamento, mas também podem surgir em situações de dor extrema.
Já o miado comum, produzido com a boca aberta e depois fechada, é frequentemente utilizado na comunicação com humanos e pode se alterar diante de desconfortos físicos.
Atikinson (2018) complementa que o ronronar também é observado em momentos de sofrimento intenso ou próximo à morte, funcionando como um possível mecanismo de autorregulação emocional ou alívio da dor.
Dores abdominais, infecções urinárias, osteoartrite e distúrbios neurológicos estão entre as causas mais comuns que podem desencadear esse comportamento.
Gatos com dor costumam adotar posições corporais incomuns como forma de aliviar o desconforto. Essas posturas antálgicas servem para evitar o movimento da área afetada e reduzir o impacto da dor.
Entre os sinais mais comuns estão:
Esse tipo de mudança pode passar despercebida, mas é um indicativo importante de que algo não está bem. Portanto, alterações sutis na postura devem sempre ser observadas com atenção.
Especialmente se surgirem de forma repentina ou forem acompanhadas de outros sinais, como vocalização excessiva ou apatia.
Se o seu pet, que antes aceitava carinho e manipulações sem resistência, passa a evitar o contato, recuar ao ser tocado ou até reagir com agressividade, é provável que esteja sentindo dor ou desconforto físico.
Esse tipo de agressividade defensiva ocorre porque o toque estimula uma área sensível ou dolorida. Em quadros crônicos, o gato pode até antecipar a dor, reagindo antes mesmo de ser tocado.
De acordo com o estudo Agressividade Felina Contra Pessoas, as causas comuns desse tipo de dor incluem:
Durante esse processo, é fundamental respeitar os limites do gato. Tentar forçar contato ou manipulação pode agravar o quadro e ainda representar risco ao tutor.
A abordagem mais segura envolve consulta veterinária imediata para investigar a origem da dor e promover o tratamento eficaz da condição clínica, com manejo adequado da dor.
Além disso, o tutor precisa passar por uma adaptação a forma de tocar e interagir com o gato.
Quando necessário, uso de técnicas de dessensibilização e contracondicionamento para restabelecer a confiança e o bem-estar do animal (Beaver, 2004; Landsberg, 2005; Curtis, 2008).
Mesmo que existam diversos motivos para justificar a ausência de fome, diminuição do apetite ou até ter uma dieta seletiva, uma das possíveis razões é a dor.
Quadros dolorosos na cavidade oral, como doença periodontal, abscessos dentários e estomatites, dificultam a mastigação e tornam o ato de comer desconfortável.
Já dores abdominais, causadas por gastroenterites, pancreatite ou obstruções intestinais, reduzem o interesse pela comida por associação negativa.
Então, se notar que o pote de ração permanece cheio ao longo do dia ou se há recusa mesmo diante dos alimentos favoritos, esse é um sinal de alerta.
A recomendação é procurar avaliação veterinária sem demora, já que a perda de apetite prolongada pode levar quadros graves, como a lipidiose hepática, uma condição grave e potencialmente fatal em felinos.
O seu gato está se escondendo em locais escuros, permanece recluso no seu canto ou evita qualquer aproximação?
De acordo com estudos sobre comportamento felino, essa resposta é instintiva. Na natureza, o isolamento ajuda a evitar predadores e preservar energia durante quadros de vulnerabilidade física.
Porém, o comportamento também está associado à dor crônica, inflamações ou doenças sistêmicas que reduzem o bem-estar geral do animal.
Sendo, em muitos casos, uma resposta ao desconforto emocional provocado pela dor, fazendo com que o gato evite estímulos externos.
Além do afastamento social, a apatia, a recusa em brincar ou em explorar o ambiente são indícios que merecem atenção.
Piscar excessivamente, manter os olhos semicerrados ou evitar a luz forte são comportamentos comuns em gatos com dor ocular.
Esse sintoma é chamado de blefaroespasmo e costuma estar associado a doenças como conjuntivite, ceratite, úlceras de córnea ou até traumas oculares.
Além do blefaroespasmo, é comum observar olhos avermelhados, secreção ocular, sensibilidade à luz (fotofobia). E, em alguns casos, o gato esfrega o rosto com as patas ou em objetos, o que pode agravar o quadro.
Segundo a American Association of Feline Practitioners (AAFP), existem três principais categorias de dor em gatos: aguda, crônica e persistente.
E, cada uma delas exige uma abordagem diferente de tratamento, como detalhamos abaixo:
É o tipo de dor que surge de forma súbita, geralmente após uma cirurgia, trauma, lesão ou infecção. Está diretamente ligada ao processo inflamatório e à fase de cicatrização, durando até cerca de 3 meses.
Essa dor, embora intensa, tende a desaparecer à medida que a lesão cicatriza. Por isso, é considerada uma resposta natural do corpo, ou seja, uma dor “fisiológica” e esperada.
A dor crônica se prolonga além do tempo normal de recuperação, e muitas vezes está associada a doenças que não têm cura, como a doença articular degenerativa (DAD).
Estudos mostram que até 92% dos gatos adultos apresentam sinais dessa condição, mesmo que de forma sutil. É uma dor silenciosa, progressiva e muitas vezes ignorada, o que a torna um grande desafio na rotina dos tutores e veterinários.
Em casos de doenças terminais ou incuráveis, a dor se torna constante e demanda cuidados paliativos. O objetivo aqui é claro: garantir bem-estar e aliviar o sofrimento, mesmo quando a cura não é possível.
O manejo da dor persistente precisa ser individualizado, respeitando os limites do pet e buscando oferecer conforto em todas as fases da doença.
Levar o gato ao veterinário imediatamente é a atitude mais segura. A dor, seja aguda ou crônica, nunca deve ser ignorada nem tratada por conta própria.
Somente o profissional pode identificar a causa, avaliar o grau do desconforto e prescrever um plano seguro e eficaz para o alívio da dor.
De modo geral, gatos adultos devem realizar check-ups ao menos uma vez por ano. Já os idosos ou com doenças crônicas precisam de avaliações mais frequentes, pois a dor muitas vezes se manifesta de forma silenciosa ou mascarada por mudanças de comportamento.
Na maioria dos casos, o tratamento pode envolver:
Essas medidas fazem parte de uma estratégia personalizada, voltada para reduzir o sofrimento e promover uma recuperação mais rápida, seja após cirurgias, traumas ou em situações de doenças crônicas.
O controle da dor em gatos exige acompanhamento contínuo. O veterinário orienta o tratamento, mas o tutor é responsável por observar o dia a dia.
Entre os cuidados indispensáveis estão:
Quando a dor não é reconhecida ou controlada, o gato pode desenvolver comportamentos considerados “problemas”, como agressividade, reclusão ou até alterações no uso da caixa de areia.
Mas atenção: nenhuma dessas atitudes é por maldade, são sinais clínicos importantes.
“O reconhecimento e o controle adequados da dor podem salvar vidas tanto quanto qualquer tratamento médico veterinário.” (Fonte: AAFP/ISFM – Pain Management Guidelines for Cats)
Apesar dos miados intensos que parecem sinal de dor, o cio em gatas não costuma causar dor. O que ocorre é um aumento nos comportamentos vocais e de agitação devido às alterações hormonais.
A FeLV (leucemia felina) não causa dor diretamente, mas o vírus compromete o sistema imunológico e favorece o surgimento de infecções, inflamações e tumores. Esses, sim, podem gerar dor.
Sim, gases em gatos em excesso podem indicar um distúrbio digestivo e provocar dor abdominal, principalmente se acompanhados de barriga inchada, flatulência barulhenta ou falta de apetite.
Se o seu gato está com dor de dente, ele pode apresentar:
Procure um médico-veterinário imediatamente. Somente o profissional pode identificar a causa da dor e indicar o tratamento correto. Seja com medicamentos, fisioterapia ou mudanças no ambiente.
Não. Automedicação é perigosa. Muitos medicamentos comuns para humanos (como paracetamol ou dipirona) são tóxicos para gatos.
Portanto, nunca dê remédios por conta própria, nem mesmo os que funcionam em cães.
A dor não tratada compromete o bem-estar e pode gerar mudanças de comportamento consideradas “problemas”, como agressividade ou reclusão.
“Estar livre de dor é um dos pilares fundamentais das chamadas Cinco Liberdades do Bem-Estar Animal, um conjunto de diretrizes amplamente reconhecido por entidades internacionais (MELLOR, 2016; ROBERTSON, 2018).”
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Referências técnicas
| Atualizada em
Sou jornalista desde 2016 e vivo cercado pelos meus pets! Sou pai do Zé e do Tobby, um Shih Tzu e um Vira-lata, da Mary, uma gatinha branca, e do Louro, um papagaio (claro!). Escrevo para Cobasi ajudando outros tutores a cuidar dos seus pets.
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