Gato com síndrome de Down? Descubra qual é a condição real

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Por Redator Cobasi

Com colaboração: Marcelo Tacconi   Tempo de leitura: 15 minutos

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Gato com síndrome de Down? Descubra qual é a condição real

Gatos não podem ter síndrome de Down, já que esta alteração genética é causada pela trissomia do cromossomo 21, exclusivo da espécie humana.

No entanto, outras variações congênitas ou adquiridas podem gerar características muito semelhantes aos da condição em humanos — o que explica a confusão.

Síndrome de Klinefelter, hipoplasia cerebelar e hidrocefalia são algumas alterações que afetam o desenvolvimento dos felinos e acabam levando a diagnósticos equivocados.

Como o assunto é complexo, convidamos o médico-veterinário Marcelo Tacconi para responder às principais dúvidas dos tutores.

Continue a leitura e descubra por que não existe gato com síndrome de Down, quais condições podem estar por trás da alteração e como identificá-las!

Por que os gatos não podem ter síndrome de Down?

Segundo a Universidade Federal de Minas Gerais, os gatos não podem apresentar a síndrome de Down porque sua estrutura genética é muito diferente da nossa.

Em geral, tanto os humanos quanto os animais se desenvolvem através das informações contidas em seus cromossomos.

Essas pequenas estruturas de DNA determinam a função e as características corporais de cada indivíduo, incluindo a cor dos olhos, a altura e até o sexo de nascimento.

Normalmente, os humanos possuem 23 pares de cromossomos (46 no total), e a síndrome de Down está relacionada a uma alteração específica no par 21. 

E é exatamente aí que as espécies se diferenciam! Afinal, os felinos não possuem esse par de cromossomos — o que faz com que seja impossível desenvolverem a condição!

Quantos cromossomos tem um gato?

gato com síndrome de down

Os gatos possuem 19 pares de cromossomos, somando 38 no total. Além da quantidade, a organização das informações genéticas entre a nossa espécie e a deles é bem diferente.

Por isso, embora as alterações cromossômicas possam surgir entre felinos, elas não vão, necessariamente, gerar traços ou características semelhantes às dos humanos.

O assunto é mesmo complexo. Então, antes de qualquer coisa, vamos entender exatamente o que é a síndrome de Down!

O que é a síndrome de Down?

A síndrome de Down é uma condição genética causada pela trissomia do cromossomo 21, uma divisão celular atípica que gera um cromossomo extra no par 21. (PIMENTEL, 2012).

O excesso de material genético interfere no desenvolvimento físico e cognitivo dos portadores da condição.

E é por isso que este grupo de pessoas apresenta algumas características específicas, como a face achatada, orelhas pequenas e dentição irregular. (LIMA, 1996)

Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome de Down é a alteração cromossômica mais comum em humanos, e também a principal causa de deficiência intelectual no mundo.

A condição foi descrita pela primeira vez em 1866 pelo pediatra inglês John Langdon Down, que deu origem ao nome pelo qual é conhecida até hoje.

Outros animais podem ter síndrome de Down?

Na prática, não! Não existem animais com síndrome de Down porque cada espécie tem uma estrutura genética própria, com cromossomos em quantidades diferentes.

Os cachorros, por exemplo, possuem 39 pares — e a trissomia no 21 não causa, na  espécie, as mesmas características da síndrome em humanos.

Entre os primatas, nossos parentes próximos, uma condição muito semelhante já foi observada, chamada de trissomia do 22.

Nesse caso, o animal nasce com uma cópia a mais do cromossomo 22, que também provoca atrasos em seu desenvolvimento físico e intelectual.

O primeiro exemplo confirmado da alteração foi documentado em 1969, em um chimpanzé, de acordo com um estudo publicado na revista Springer.

No entanto, ainda não é cientificamente correto dizer que os primatas apresentam, sim, a síndrome de Down. Afinal, a trissomia não se encontra no cromossomo 21.

Quais sinais indicam anomalias genéticas em gatos?

sindrome de down em gatos

Apesar de não existir síndrome de Down em gatos, alguns felinos podem apresentar alterações genéticas ou adquiridas que lembram a condição em humanos. 

Mudanças no organismo e nas feições dos animais, como uma face achatada ou um caminhar trôpego e desgovernado são os primeiros sinais de alerta.

Segundo o Estadão, outros sintomas observados nestes quadros:

  • olhos bem separados ou saltados;
  • alterações na morfologia da cabeça, como tamanho ou formato fora do padrão.
  • estrabismo ou problemas de visão;
  • alterações musculares ou ósseas na região bucal;
  • caminhada desajeitada e falta de coordenação motora;
  • língua constantemente para fora da boca;
  • diferenças cognitivas, incluindo respostas lentas ou falta de atenção;
  • atrasos no crescimento, altura reduzida.

Nem todos esses sinais indicam, por si só, uma alteração genética. Alguns também aparecem em doenças adquiridas ou em más-formações isoladas

De qualquer forma, elas podem atrapalhar a longevidade e qualidade de vida dos felinos, exigindo cuidados especiais e uma visita ao veterinário.

Quais condições são parecidas com a síndrome de Down em felinos?

Se você já desconfiou que tinha um gatinho com Down em casa, saiba que muitas outras condições podem estar desencadeando os sintomas que geraram a confusão inicial.

Essas alterações podem ser cromossômicas, congênitas (desenvolvidas antes do animal nascer) ou adquiridas nos primeiros dias de vida do felino.

Entre as principais condições, destacamos:

Trissomias

Apesar de não desenvolverem a trissomia do 21, os gatos podem, sim, apresentar outras duplicações anormais em seu material genético, como explica o doutor Marcelo:

“É de suma importância ressaltarmos que existem vários tipos de trissomia nos pequenos felinos, uma delas é no par de cromossomos 19”, destaca.

A trissomia em gatos é rara, mas um exemplo conhecido é a síndrome de Klinefelter, que atinge o par de cromossomos sexuais dos felinos. 

Normalmente, assim como os humanos, os gatos machos possuem um par de cromossomos XY, enquanto as fêmeas apresentam a dupla XX.

Em alguns casos, no entanto, o macho nasce com uma cópia X extra, formando a combinação XXY — alteração genética que caracteriza a síndrome.

Os gatos portadores da condição costumam apresentar infertilidade, menor massa muscular, baixa produção de testosterona e atraso no desenvolvimento.

A síndrome parece afetar especialmente os gatos com pelagem tricolor (calico ou escaminha), característica fisiologicamente impossível em machos normais.

Afinal, o gene responsável pelas cores preta e laranja está localizado no cromossomo X. As fêmeas, por terem dois deles, podem carregar apresentar o padrão, combinado do branco.

Mas os machos comuns, com somente um cromossomo X, expressam apenas uma dessas cores: ou são laranjas, ou são pretos.

Só nos raríssimos casos de machos XXY é possível observar as três cores juntas, algo que ocorre em cerca de 1 a cada 3.000 gatos tricolores, segundo a Universidade Cornell.

Quer saber mais sobre as diferenças entre a pelagem dos felinos? Descubra o significado espiritual de cada uma delas neste artigo com a Márcia Sensitiva!

Hipoplasia Cerebelar

A hipoplasia cerebelar é uma malformação congênita que impede o desenvolvimento cerebral saudável do cerebelo de gatos filhotes.

Na maioria das vezes, ela está associada à gravidez de fêmeas acometidas pela panleucopelina felina, doença viral que causa complicações intrauterinas. (FLORES, 2017)

O gato afetado costuma ter um andar cambaleante, dificuldade para pular e tremores na cabeça, falta de coordenação que lembra os sinais da síndrome de Down em humanos.

Hidrocefalia

A hidrocefalia é uma condição caracterizada pelo acúmulo de líquido no cérebro que gera o aumento na pressão intracraniana dos felinos. (VIGH & SILVA, 2005)

Esse quadro pode ser congênito ou surgir por lesões e infecções ao longo da vida. Certas raças também apresentam predisposição ao distúrbio, como o Siamês e o Persa.

Em geral, um gato com hidrocefalia pode ter a cabeça aumentada e alterações de comportamento, como confusão — sinais relacionados à trissomia do 21.

Distúrbios neurológicos ou malformações

Além das condições já citadas, existem outros distúrbios neurológicos ou malformações faciais e corporais que podem alterar a aparência e o comportamento dos felinos. 

As causas por trás dos distúrbios são as mais diversas possíveis, incluindo complicações gestacionais, acidentes nos primeiros anos de vida do pet ou mutações genéticas.

Gatos com esses quadros costumam apresentar diferenças nas feições, reflexos atrasados, vocalização excessiva ou dificuldade de aprendizado. 

Quem se depara com um animal com essas características pode até pensar que se trata de um gato com down — embora as causas sejam bem diferentes.

O que causa alterações genéticas em gatos?

doenças de gatos

As alterações congênitas em gatos podem surgir por diferentes motivos, mas um deles chama atenção especial:

“Um fator que pode levar o animal a apresentar anomalias genéticas é o cruzamento entre a mesma linhagem, que chamamos de endogamia”, explica o veterinário Marcelo.

Quando animais da mesma linhagem se reproduzem — como uma mãe e seu filhote — genes recessivos que, sozinhos, não trariam problemas podem se manifestar.

Além da consanguinidade, infecções durante a gestação também podem gerar alterações nos filhotes, incluindo as malformações citadas anteriormente, causando problemas.

“Se uma fêmea está prenha e se infecta por um vírus, pode causar alguma alteração congênita nos filhotes, o que não está relacionado à genética”, completa o especialista.

Como identificar condições genéticas em gatos?

Detectar uma condição genética em gatos não é simples, já que muitos sinais podem se confundir com características individuais ou até com outras doenças que atingem felinos.

As alterações na fisionomia e comportamento do animal dão algumas dicas gerais e podem ser o pontapé inicial para o diagnóstico.

Mesmo assim, só o médico-veterinário pode confirmar se o gato apresenta de fato uma alteração genética ou congênita. 

A consulta começa com uma avaliação clínica completa, onde o especialista avaliará o histórico e características gerais do pet.

Depois, alguns exames específicos vão ajudar a descartar outros problemas de saúde e confirmar a condição, como:

  • Exames de sangue: verificam a saúde geral, níveis hormonais e possíveis deficiências.
  • Exames de imagem (raio-x e ultrassom): ajudam a observar órgãos internos, ossos e estruturas reprodutivas.
  • Tomografia ou ressonância magnética: permitem analisar o cérebro e estruturas mais complexas, especialmente em casos de alterações neurológicas.
  • Testes genéticos: identificam mutações e alterações cromossômicas, sendo os mais indicados para confirmar síndromes genéticas.

Quanto antes o diagnóstico for feito, maiores são as chances de garantir bem-estar e qualidade de vida ao gato.

E o tutor tem um papel fundamental nesse processo!

Observar o comportamento do animal no dia a dia, registrar sinais atípicos e compartilhar essas informações acelera a investigação e ajuda a definir o cuidado ideal para o pet.

Existe tratamento para síndromes genéticas em gatos?

A maioria das síndromes genéticas não tem cura, e o “tratamento” indicado tem muito mais a ver com o manejo dos sintomas do que com a remissão total deles.

Nos casos de trissomia, por exemplo, não existe um protocolo específico que reverta a condição, como explica o especialista:

“O que deve ser feito é um acompanhamento de perto por um médico-veterinário de confiança, que irá avaliar o animal constantemente para, se necessário, entrar com tratamento para enfermidades relacionadas à síndrome”, completa.

Como cuidar de gatos com síndromes genéticas?

Como cuidar de gatos com síndromes genéticas

Animais que apresentam alguma anomalia genética provavelmente vão precisar de cuidados especiais, e é papel do tutor proporcionar a melhor qualidade de vida possível.

Afinal, as condições costumam afetar várias funções do organismo do pet, deixando o felino mais frágil e, em alguns casos, limitando sua autonomia.

Às vezes, os próprios instintos da espécie dificultam a sobrevivência do animal, já que a mamãe felina pode rejeitar um filhote diferente e até parar de amamentá-lo

Ainda assim, com o suporte certo e muito carinho, gatos com trissomia e outras alterações congênitas conseguem viver por longos anos felizes ao lado de sua família.

A seguir, confira algumas dicas essenciais para promover qualidade de vida, bem-estar e saúde ao seu amigo:

1. Ambiente seguro e adaptado

O primeiro passo definitivamente é garantir um ambiente seguro, já que quedas aumentam o risco de lesões e problemas de saúde associados.

Soluções como caixa de areia em um local de fácil acesso e a escolha de um modelo que tenha as laterais baixas, são questões que precisam ser levadas em consideração. 

Como também, colocar a caminha em um lugar acessível e verificar se não existem perigos que podem ser uma ameaça ao animal.

Alguns pets podem apresentar dificuldade de locomoção, redução ou perda de visão ou audição, por isso, é muito importante criar um lar seguro para que acidentes não ocorram

2. Ajuda com a higiene

Alguns felinos deixam de se limpar sozinhos devido a limitações físicas ou falta de coordenação, o que exige atenção extra à higiene dos animais.

Nesses casos, o tutor deve apoiar o gato com escovações frequentes, limpeza das patas e áreas íntimas e alguns banhos regulares — sempre sob orientação veterinária.

Lenços umedecidos, banho a seco e soluções de limpeza próprias para animais são os produtos mais indicados para a higienização segura.

Assim, você evita o acúmulo de sujeira e resíduos na pelagem, reduz o risco de infecções e ainda garante que o felino esteja sempre limpo e confortável.

3. Ajustes na dieta

A alimentação equilibrada é fundamental para a saúde de qualquer gato, mas nos casos de alterações genéticas ou congênitas, ela precisa ser ainda mais bem planejada. 

Rações de alta qualidade, opções úmidas ou grãos de fácil mastigação ajudam animais com dentição irregular, que podem sentir dificuldade para pegar ou engolir os grãos.

Ajuste a dieta do felino conforme ele se desenvolve, prevenindo deficiências nutricionais e controlando o peso, já que muitos deles podem apresentar metabolismo mais delicado.

4. Gatificação

O enriquecimento ambiental, com brinquedos e itens que estimulem os instintos felinos, continua sendo importante, mas deve ser adaptado conforme as necessidades do pet. 

Em vez de estruturas muito altas, opte por arranhadores baixos, caminhas acessíveis e brinquedos que estimulem a mente sem exigir grandes esforços físicos.

Esse tipo de adaptação permite que o gato mantenha hábitos naturais, como arranhar, brincar e descansar em diferentes locais, sem frustrações ou riscos desnecessários. 

Além de estimular o bem-estar físico, a gatificação adequada ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade, tornando o dia a dia do pet mais feliz.

5. Acompanhamento veterinário regular

O monitoramento veterinário é indispensável para os felinos com condições especiais, já que ajudam a identificar complicações e ajustar os cuidados indicados.

Leve o animal para consultas semestrais ou anuais, dependendo da indicação profissional, e faça exames periódicos sempre que necessário.

Vale reforçar, que assim como um ser humano com síndrome de Down, animais que apresentam condições semelhantes precisam ser acompanhados com atenção

6. Amor e carinho

Por fim, nenhum cuidado substitui o afeto e o amor do tutor!

Gatos com síndromes genéticas precisam de paciência e compreensão, mas retribuem com a mesma lealdade e carinho de qualquer outro felino.

O contato diário, as brincadeiras e a atenção reforçam a segurança emocional do pet, que se sente acolhido e protegido. 

“Temos que compreender que eles são capazes de sentir, amar, aprender e se divertir como qualquer outro gatinho e que com toda certeza irão mudar nossa vida para melhor”, concluiu o especialista da Cobasi.

O vínculo afetivo, somado aos cuidados práticos, é o que realmente garante uma vida plena para esses gatos especiais.

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Embora a síndrome de Down não exista entre os felinos, muitos gatos podem apresentar alterações que precisam ser acompanhadas de perto.

Na Pet Anjo, empresa parceira da Cobasi, você encontra veterinários preparados para identificar e cuidar do seu gatinho com necessidades especiais.

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Referências técnicas:

Estadão | Cachorros e gatos podem ter síndrome de Down? Veterinária explica

Universidade Federal de Minas Gerais | Síndrome de Down em animais é possível?

Ministério da Saúde | Diretrizes de atenção à pessoa com síndrome de Down

PubVet | Alterações genéticas envolvidas na expressão das pelagens tortoiseshell e cálico em gatos domésticos machos: Revisão

Noble Veterinary Clinics | Síndrome de Down em gatos: é possível?

Revista ComCiência | Síndrome de down: uma revisão de literatura

Repositório Digital Instituto Federal da Paraíba | Hipoplasia cerebelar em um felino

Revista Brasileira de Nutrição Animal | Hidrocefalia congênita em felino – Relato de caso

How Stuff Works | Um gato malhado usa um casaco de muitas cores

Marcelo Tacconi

Com colaboração: Marcelo Tacconi

Médico-veterinário | CRMV - 44031

Formado em Medicina Veterinária pela UNESP/FMVA e com MBA em Neurociência, Consumo e Marketing pela PUC-RS, Marcelo divide a vida com seus pets, Meg e Valentina, que trazem alegria ao seu dia a dia.

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1 Comentário

  1. alanna disse:

    os gatos e cachorros sao uma fofura???????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????????

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