
O linfoma canino, também chamado de linfossarcoma (LSA), é um tipo de câncer maligno que afeta principalmente o sistema linfático dos cães, formado por órgãos como linfonodos (gânglios), baço e fígado.
Esse sistema tem um papel essencial no organismo: proteger o animal contra infecções e manter o equilíbrio do sistema imunológico.
Quando ocorre o linfoma, há uma multiplicação descontrolada dos linfócitos, que são células responsáveis por defender o organismo contra infecções e agentes invasores.
O problema é que, ao se multiplicarem de forma anormal, essas células deixam de cumprir sua função protetora e passam a se acumular em órgãos como linfonodos, baço, fígado e medula óssea.
Dependendo da forma como essas células se multiplicam, o linfoma pode afetar apenas uma área do corpo ou se disseminar por vários órgãos, caracterizando uma doença sistêmica.
Estudos mostram que o linfoma representa de 15 a 20% dos novos diagnósticos de câncer em cães e até 24% de todos os casos oncológicos, sendo a neoplasia hematopoiética mais comum
Ou seja, um tipo de câncer que afeta as células responsáveis pela produção do sangue e pelas defesas do organismo. O desenvolvimento da doença costuma estar relacionado a uma combinação de predisposição genética e fatores ambientais.
Essa relevância clínica torna fundamental que os tutores conheçam os sintomas, as formas de diagnóstico e as opções de tratamento disponíveis.
Para esclarecer todos esses pontos de forma acessível, conversamos com a médica veterinária Lysandra Barbieri (CRMV-SP 44484), Analista de Educação Corporativa na Cobasi, que detalhou:
A causa exata do linfoma em cães ainda não é totalmente conhecida. Atualmente, os pesquisadores reconhecem o linfoma como um grupo de doenças com subtipos distintos, e entendem que sua origem é multifatorial. Ou seja, depende da soma de vários fatores.
De forma simples, o surgimento da doença pode estar ligado à genética do animal, alterações no sistema imunológico e à exposição a elementos do ambiente (Ribeiro et al., 2017).
Entre os principais fatores de risco estão:
Segundo a veterinária Lysandra Barbieri: “A doença é mais comum em raças de porte grande, como: Pastor Alemão, Doberman, São Bernardo, Boxer e Rottweiler. Principalmente em cachorros de meia-idade a idosos”, explica a especialista.
Além dessas raças, estudos apontam predisposição em:
Existem vários tipos de linfoma em cães, que são categorizados pelos órgãos afetados. De acordo com a veterinária Lysandra Barbieri, os mais comuns são:
O linfoma multicêntrico em cães ocorre quando o tumor se desenvolve simultaneamente em vários linfonodos, tanto superficiais quanto profundos.
Esse é o tipo mais comum de linfoma canino, responsável por 80 a 85% dos casos, e pode atingir o baço, fígado, medula óssea e tonsilas, provocando aumento generalizado dos gânglios linfáticos.
Os principais sintomas incluem inchaço dos linfonodos, fígado e baço aumentados (hepatomegalia e esplenomegalia), febre e acúmulo de líquido abdominal (ascite).
O linfoma alimentar em cães ocorre quando o tumor se forma no trato gastrointestinal, afetando o estômago, os intestinos e os linfonodos mesentéricos.
É o segundo tipo mais comum da doença e pode ser classificado em graus histológicos (baixo, intermediário e alto), que influenciam o prognóstico e a resposta ao tratamento, geralmente feito com quimioterapia.
Nesse caso, os sintomas mais frequentes são vômito, diarreia persistente, perda de peso, e em alguns casos fezes com gordura (esteatorreia) ou presença de sangue digerido (melena).
O linfoma cutâneo canino ocorre quando as células tumorais atingem a pele, formando úlceras, nódulos, placas avermelhadas, áreas de descamação e queda de pelo.
A condição representa cerca de 5% dos casos e pode ser confundida com alergias ou infecções dermatológicas.
O cachorro com linfoma cutânea pode apresentar lesões de pele, coceira intensa, descamação, úlceras e queda de pelos, podendo também afetar mucosas da boca e dos olhos.
O linfoma mediastinal em cães ocorre quando o tumor afeta os linfonodos localizados no tórax e/ou o timo, glândula responsável pela maturação dos linfócitos T.
Esse tipo representa uma pequena porcentagem dos casos, mas costuma envolver linfócitos T malignos de alto grau, caracterizados por multiplicação rápida e comportamento agressivo.
Os sinais da doença incluem dificuldade para respirar, tosse, intolerância ao exercício, além de sede e urina aumentadas devido à hipercalcemia (nível elevado de cálcio no sangue).
O linfoma extranodal é considerado raro e ocorre quando o tumor se desenvolve fora do sistema linfático, atingindo órgãos específicos como pele, rins, pulmões, olhos, ossos e sistema nervoso central.
Os sintomas variam conforme o órgão afetado, podendo incluir:
Vale ressaltar, alguns cães podem não apresentar nenhum sinal clínico de doença. Por isso, a veterinária Lysandra Barbieri alerta:
“Quanto antes for feito o diagnóstico, mais cedo o tratamento é iniciado e melhores são as chances de resposta ao medicamento, resultando em maior tempo de sobrevida e qualidade de vida do animal”.
O sinal clínico mais comum de linfoma em cães é o inchaço dos linfonodos, que ficam firmes e indolores.
De modo geral, os cachorros têm vários pares de linfonodos espalhados pelo corpo, mas os mais fáceis de perceber são:
Além disso, cães com linfoma podem apresentar sintomas inespecíficos, como:
O diagnóstico do linfoma em cães deve ser realizado por um oncologista veterinário, que combina a avaliação clínica com exames laboratoriais e de imagem.
Entre os procedimentos mais comuns para identificar a doença estão:
Além disso, o veterinário pode realizar o estadiamento do linfoma, que consiste em verificar até que ponto a doença se espalhou no organismo. Esse processo é fundamental para definir o tratamento e estimar o prognóstico do animal.
Sim, o tratamento de escolha para o linfoma canino é a quimioterapia antineoplásica, considerada a abordagem mais eficaz contra esse tipo de câncer.
Esse tratamento utiliza medicamentos capazes de destruir ou impedir a multiplicação das células cancerígenas, controlando a progressão da doença e proporcionando melhor qualidade de vida ao animal.
Em alguns casos específicos, podem ser recomendadas também cirurgia ou radioterapia, mas essas opções não substituem a quimioterapia, que continua sendo o principal recurso terapêutico.
Na prática clínica, os protocolos mais utilizados envolvem a poliquimioterapia, uma variação da quimioterapia antineoplásica.
Enquanto a quimioterapia antineoplásica define o uso de fármacos contra células tumorais, a poliquimioterapia consiste na combinação de diferentes medicamentos, como doxorrubicina, vincristina, ciclofosfamida, L-asparaginase e prednisona.
Essa combinação aumenta a taxa de resposta, reduz a resistência das células tumorais e prolonga o tempo de remissão.
De modo geral, a quimioterapia com um único fármaco pode ser indicada em casos localizados ou em cães com restrições clínicas, quando o organismo não tolera múltiplas drogas.
Já a poliquimioterapia é preferida em quadros sistêmicos ou mais agressivos, por oferecer resultados mais consistentes e duradouros.
A poliquimioterapia costuma ser aplicada em fases sequenciais, que variam conforme a resposta do animal ao tratamento:
Como todo tratamento quimioterápico, os fármacos podem causar efeitos colaterais, exigindo monitoramento periódico, especialmente das funções hepática e renal.
Por isso, cães em tratamento devem realizar exames regulares e manter acompanhamento contínuo com o médico-veterinário oncologista, que ajusta o protocolo conforme a tolerância e evolução clínica do paciente.
O objetivo do tratamento é alcançar a remissão do linfoma, garantindo mais tempo e qualidade de vida ao animal.
Apesar dos avanços, a cura definitiva do linfoma em cães é rara, ocorrendo em menos de 10% dos casos.
Ainda assim, com o tratamento adequado e acompanhamento veterinário contínuo, muitos cães conseguem viver meses ou até anos com qualidade de vida, mesmo diante da doença.
O prognóstico varia de acordo com o tipo de linfoma e fatores individuais, como a idade, raça, sexo, estado geral de saúde e imunidade do animal. Linfomas de células T, por exemplo, costumam ter evolução mais agressiva e resposta menos favorável ao tratamento.
De acordo com estudos, a sobrevida média após o início da quimioterapia varia entre 12 e 16 meses, mas alguns cães podem viver mais tempo quando apresentam boa resposta ao protocolo terapêutico.
Mesmo em fases avançadas, o foco deve ser garantir conforto, controle da dor, suporte nutricional e cuidados paliativos, oferecendo ao pet qualidade de vida no tempo que ele tiver.
A Drª Lysandra Barbieri respondeu algumas dúvidas comuns:
Não necessariamente. Em gatos, por exemplo, uma das causas pode ser a presença dos vírus da FIV e FeLV, o que não acontece em cachorro.
O linfoma se origina a partir de linfócitos anormais, células de defesa que fazem parte do sistema linfático.
Esses linfócitos podem surgir em qualquer região do organismo onde exista tecido linfático, como linfonodos, baço ou fígado e, com frequência, se disseminam rapidamente para outros órgãos.
O câncer é um termo amplo que descreve qualquer crescimento descontrolado de células anormais. O linfoma, por sua vez, é um tipo específico de câncer que atinge os linfócitos (células do sistema imunológico) e os órgãos linfáticos.
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| Atualizada em
Formada em Medicina Veterinária pela UNESC - Campus Colatina, Lysandra é apaixonada pelos seus pets adotados: Pretinha, Cabrita e Tuí. Cada um deles reforça sua dedicação à Medicina Veterinária e reflete seu amor pelos animais.
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