Hemorroida em cachorro? Veja por que não existe e o que é prolapso retal

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Por Joe Oliveira   Tempo de leitura: 10 minutos

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hemorroida em cachorro

Na medicina veterinária, não há registros clínicos ou evidências anatômicas de hemorroidas em cachorro

A condição, bastante comum em humanos, não se aplica à anatomia canina devido à forma como o corpo do animal é estruturado e como o sistema vascular funciona.

No entanto, algumas doenças anorretais, como o prolapso retal, podem causar sinais semelhantes, gerando dúvidas nos tutores. 

Neste artigo, você vai entender por que cães não têm hemorroidas, o que pode estar causando sintomas parecidos e como agir ao perceber algo de errado na região anal do seu pet.Tudo com base em estudos científicos e orientações veterinárias.

O que é hemorroida e por que ela não afeta cães?

A hemorroida (também chamada de almorreima) é uma condição comum em humanos. Ela ocorre quando as veias do reto ou do ânus se dilatam ou inflamam, provocando dor, coceira, sangramento e sensação de desconforto.

Esse quadro costuma surgir por fatores como esforço ao evacuar, obesidade, gravidez ou pela posição ereta prolongada, que aumenta a pressão sobre a região pélvica.

Nos cães, no entanto, esse tipo de alteração vascular não ocorre. Isso porque:

  • o corpo do cachorro é horizontal, o que reduz significativamente a pressão sobre as veias do reto;

  • a anatomia da região anal e o sistema circulatório canino são diferentes dos humanos;

  • segundo estudo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a vascularização do reto em cães não favorece a formação dessas varizes, características da hemorroida humana.

Portanto, os cães não desenvolvem hemorroidas. No entanto, é comum que alguns problemas anorretais — como prolapso retal, tumores, infecções ou inflamações — apresentem sintomas semelhantes como vermelhidão e inchaço na região anal.

Por causa dessa semelhança, muitos tutores confundem essas doenças com hemorroida, quando na verdade estão diante de outras condições que exigem atenção veterinária.

Entre elas, o prolapso retal é uma das mais comuns. É sobre ele que falaremos a seguir.

O que é prolapso retal em cães?

O prolapso retal é uma condição em que uma parte do reto do cachorro se projeta para fora do ânus, formando uma estrutura avermelhada, úmida e saliente, que pode assustar bastante o tutor. 

Visualmente, ele pode lembrar uma “almofada” ou “tubo”, que geralmente apresenta uma cor vermelho vivo, o que explica a confusão comum com a hemorroida humana.

Esse problema ocorre quando há um enfraquecimento dos músculos retais e o animal faz esforço repetido para evacuar — especialmente em casos de diarreia prolongada, prisão de ventre ou presença de parasitas intestinais. 

Quanto mais o pet força, maior é o risco de o tecido retal ser empurrado para fora. De acordo com o portal PetMD, existem dois tipos principais de prolapso:

  • Prolapso incompleto: apenas a mucosa retal (camada mais superficial) fica exposta.

  • Prolapso completo: todas as camadas do reto se exteriorizam, o que configura um quadro mais grave.

O prolapso retal em cães é uma emergência médica

Quando detectado precocemente, o prolapso retal geralmente é tratável e tem cura, podendo exigir cirurgia, especialmente se ocorrer novamente.

Se o tecido permanecer exposto por muito tempo, pode escurecer e necrosar, comprometendo a recuperação. Em casos graves, a condição pode ser fatal, por isso o atendimento veterinário rápido é essencial.

O tratamento varia conforme a gravidade: em muitos casos, a reposição manual do reto associada ao controle da causa subjacente é suficiente para uma recuperação completa.

O que causa prolapso retal em cachorro?

As principais causas do prolapso retal em cães incluem:

  • esforço para defecar causado por prisão de ventre ou diarreias prolongadas;

  • parasitas intestinais (verminoses);

  • problemas intestinais crônicos ou inflamatórios;

  • constipação severa;

  • complicações no parto (em fêmeas);

  • tumores anorretais;

  • predisposição genética em algumas raças.

Além disso, fatores como alimentação inadequada, falta de vermifugação e desidratação podem agravar o risco de prolapso retal.

Quais são os sintomas do prolapso retal em cães?

prolapso retal cachorro

O principal sinal do prolapso retal é a saída de parte do reto pelo ânus do cachorro, o que pode se agravar conforme ele faz força para evacuar.

Esse é o sintoma mais evidente, mas não o único. Outros sinais também podem aparecer e indicar a gravidade do quadro, como:

  • Postura curvada prolongada: o cão permanece por mais tempo do que o normal na posição de evacuação, mesmo sem conseguir defecar;

  • Aumento da frequência de evacuação: o pet tenta fazer cocô várias vezes ao dia, com pouco ou nenhum resultado;

  • Fezes alteradas: podem estar pequenas, ressecadas, mais soltas que o habitual ou cobertas por vermes intestinais;

  • Dificuldade para defecar (disqueria): esforço visível, gemidos ou demora para evacuar;

  • Sangramento anal: perceptível no local ou nas fezes;

  • Dor ao evacuar: o cão pode demonstrar incômodo, inquietação, se recusar a evacuar ou até ficar agressivo;

  • Lambedura ou mordedura na região anal ou no próprio prolapso: em resposta à coceira, dor ou irritação;

  • Inchaço, vermelhidão e sensibilidade ao redor do ânus;

  • Distensão abdominal e tenesmo (esforço contínuo para evacuar, mesmo sem fezes);

  • Letargia, perda de apetite e prostração: especialmente se houver infecção associada;

  • Escurecimento do tecido exposto: sinal de necrose, o que indica perda de irrigação sanguínea e exige intervenção imediata.

Se o seu cachorro está com algo saindo do ânus, mesmo que ainda pareça pequeno ou esteja visível apenas em alguns momentos, leve-o imediatamente ao veterinário

Outras condições semelhantes a “hemorroida em cães”

Além do prolapso retal, há outros problemas anais que podem causar sinais semelhantes e confundir os tutores:

  • adenoma perianal (tumor benigno próximo ao ânus);

  • abscessos ou infecções das glândulas anais;

  • hérnias perineais;

  • fístulas anais crônicas;

  • inflamações causadas por diarreia ou alergias alimentares.

A única forma de diferenciar corretamente essas condições é com avaliação clínica feita por um médico-veterinário. 

Portanto, não realize qualquer tentativa de diagnóstico ou tratamento em casa. O uso de pomadas inadequadas pode mascarar os sintomas ou agravar o quadro.

Grupos e fatores de risco

Embora o prolapso retal em cães possa ocorrer em qualquer fase da vida, alguns fatores aumentam significativamente o risco do problema se desenvolver, como:

  • filhotes com sistema imunológico imaturo são mais vulneráveis a diarreias severas e parasitas intestinais.

  • cães com verminoses, protozoários ou outras infecções intestinais que causam diarreias frequentes.

  • cadelas no parto, especialmente quando prolongado, pode haver pressão excessiva na região pélvica, favorecendo o deslocamento do reto.

  • após o parto, a cadela pode desenvolver prolapso retal por causa da constipação e do esforço durante as primeiras evacuações. Especialmente se estiver debilitada ou com dieta pobre em fibras.

  • animais que sofrem com constipação frequente, fazem esforço constante para defecar, aumentando o risco de prolapso retal.

  • distúrbios crônicos do intestino, como colites ou síndrome do intestino irritável, causam tenesmo (esforço para evacuar sem fezes) e aumentam a frequência de defecações, que são dois gatilhos para o prolapso.

Vale destacar que embora o prolapso não seja considerado uma doença genética, cães que já apresentaram o problema anteriormente têm maior risco de recidiva. Por isso, é importante informar esse histórico nas consultas veterinárias regulares.

Quais os riscos do prolapso retal em cães?

prolapso retal cão

O prolapso retal em cães é uma condição progressiva. Isso significa que, se não for tratado a tempo, pode se agravar rapidamente, resultando em complicações graves, que podem ser irreversíveis ou até fatais.

De modo geral, a doença pode:

  • evoluir para necrose da mucosa retal;
  • expor o animal a infecções graves;
  • causar fístulas anais e perfurações;
  • exigir cirurgia de reconstrução do reto;
  • em casos mais graves, cirurgia de ressecção do segmento afetado;
  • aumentar o risco de recidivas, principalmente quando a causa subjacente — como parasitas intestinais, constipação ou infecções — não é identificada e tratada.

Como é feito o diagnóstico do prolapso retal em cães?

O diagnóstico é feito com base na observação clínica e no histórico clínico do animal. Em muitos casos, a simples presença de uma massa alongada e avermelhada saindo pelo ânus já é suficiente para que o veterinário identifique o quadro.

No entanto, o veterinário precisa descartar outras possíveis doenças que apresentam sinais clínicos semelhantes. 

Para diferenciar as duas condições, um dos métodos recomendados na prática clínica é a introdução de uma sonda romba lubrificada entre a parede do reto e o tecido exteriorizado:

Essa técnica, descrita no clássico de medicina veterinária de Ettinger & Feldman (2014) e reforçada por Melo (2017), é fundamental para um diagnóstico seguro e eficaz.

Exames complementares importantes

Além da inspeção visual e da palpação retal, o veterinário pode solicitar exames adicionais para investigar a causa do prolapso e avaliar o estado geral do pet:

  • exame de fezes (coproparasitológico): para identificar verminoses e infecções intestinais;

  • hemograma, bioquímico e urinálise: para avaliar a presença de inflamações, alterações metabólicas e função renal;

  • ultrassonografia e radiografia abdominal: ajudam a detectar hérnias, obstruções ou alterações anatômicas;

  • cultura urinária e exames específicos, se houver suspeita de infecção sistêmica ou alteração multissistêmica.

Tem tratamento para prolapso retal em cachorro?

hemorroida em cães como tratar

Sim, o tratamento depende do tipo de prolapso (incompleto ou completo), da condição do tecido exposto, da frequência do problema e, principalmente, da causa subjacente.

Por exemplo, para casos leves, onde o tecido pode ser recolocado e suturado, medicação anti-inflamatória e dieta específica são um dos tratamentos mais comuns e eficazes. 

Já em condições mais graves, pode ser necessário cirurgia para remoção da parte necrosada. Além disso, o veterinário poderá indicar um suporte intensivo com antibióticos intravenosos e analgesia potente.

Como prevenir o prolapso retal em cães?

A prevenção do prolapso retal depende do cuidado com a saúde intestinal do pet e da redução de fatores que causam esforço ao evacuar, como constipação, diarreia crônica e verminoses.

Embora nem todos os casos sejam evitáveis, algumas medidas simples e consistentes podem reduzir bastante o risco:

Ofereça uma alimentação balanceada e rica em fibras

Dietas com bom teor de fibras ajudam a manter o trânsito intestinal saudável, evitando tanto fezes ressecadas quanto diarreias prolongadas.

Mantenha a vermifugação do cão em dia

Parasitas intestinais são uma das principais causas de esforço retal e diarreia em cães. Siga sempre o protocolo de vermifugação  indicado pelo médico-veterinário.

Estimula a hidratação

A ingestão adequada de água evita fezes secas e duras, facilitando a evacuação. Ofereça sempre água limpa e fresca, além de considerar alimentos úmidos, quando indicado.

Observe o comportamento de evacuação

Se notar que o pet está com dificuldade para defecar, faz força excessiva, tenta evacuar muitas vezes ao dia ou apresenta sangue nas fezes, procure o veterinário imediatamente.

Realize check-ups regulares

Consultas de rotina ajudam a identificar alterações intestinais, inflamações ou predisposições antes que evoluam para um quadro grave.

prolapso retal cachorro o que fazer

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Por Joe Oliveira

Redator

Sou jornalista desde 2016 e vivo cercado pelos meus pets! Sou pai do Zé e do Tobby, um Shih Tzu e um Vira-lata, da Mary, uma gatinha branca, e do Louro, um papagaio (claro!). Escrevo para Cobasi ajudando outros tutores a cuidar dos seus pets.

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