Displasia em cachorro: guia completo da doença ortopédica mais comum em cães

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Por Joe Oliveira   Tempo de leitura: 11 minutos

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cachorro com displasia-coxofemoral

A displasia é a doença ortopédica mais frequente em cães, especialmente nas raças grandes e médias. 

Essa condição compromete diretamente a mobilidade, o conforto e a qualidade de vida do pet, podendo evoluir para dor crônica, dificuldade de locomoção e até perda funcional das articulações.

De acordo com a Orthopedic Foundation for Animals (OFA), algumas raças apresentam índices alarmantes de prevalência da displasia:

  • Bulldog – 70,9%
  • Pug – 70%
  • Fila Brasileiro – 30%
  • American Pit Bull Terrier – 23,2%
  • Rottweiler – 21,2%
  • Golden Retriever – 19,9%
  • Beagle – 17,8%
  • Labrador Retriever – 12,1%

Esses dados reforçam a importância de compreender o que é a displasia e identificar seus sinais precocemente, principalmente em cães com predisposição genética.

É exatamente isso que você vai descobrir neste guia completo. A seguir, reunimos tudo o que você precisa saber sobre displasia em cachorro, com base em fontes técnicas, estudos veterinários e recomendações atualizadas para tutores responsáveis. Confira!

O que é displasia em cães?

A displasia em cães é uma doença ortopédica que compromete o desenvolvimento das articulações, afetando sua estabilidade, alinhamento e função.

A palavra “displasia” tem origem no grego e significa “formação anormal”. Ou seja, é uma condição em que uma estrutura corporal, como uma articulação, não se desenvolve corretamente durante o crescimento do animal.

Quais partes do corpo a displasia afeta?

Embora o quadril seja a região mais comumente afetada, outras articulações também podem ser comprometidas, como os cotovelos.

As principais estruturas corporais afetadas incluem:

  • Articulação coxofemoral (quadril): forma mais comum da doença;
  • Articulação umerorradioulnar (cotovelo): provoca instabilidade nos membros anteriores;
  • Cartilagens articulares: sofrem desgaste precoce devido ao atrito anormal;
  • Ligamentos, tendões e musculatura adjacente: enfraquecem com a progressão da displasia.

Na maioria dos casos, a displasia é bilateral, afetando ambos os lados do corpo. No entanto, também pode se manifestar de forma unilateral, especialmente nos estágios iniciais.

Vale destacar que não há diferença significativa de incidência entre machos e fêmeas.

Por se tratar de uma enfermidade silenciosa nos estágios iniciais, muitos tutores só percebem o problema quando o cão já apresenta dor, dificuldade para andar ou alterações na postura e no padrão de movimento.

Tipos de displasia em cachorro

Assim como em humanos, a displasia em cães não se manifesta de forma única. A condição pode afetar diferentes articulações e se apresentar em graus variados, exigindo abordagens distintas para diagnóstico e tratamento. 

Conhecer os principais tipos é essencial para identificar precocemente o problema e buscar o melhor cuidado para o pet.

Displasia coxofemoral

A displasia coxofemoral (DCF) é a forma mais frequente da doença e afeta a articulação entre o fêmur e a pelve. 

A condição ocorre quando há um encaixe imperfeito dessa articulação, gerando instabilidade, atrito anormal e, com o tempo, desgaste da cartilagem, inflamação e dor crônica.

Esse tipo de displasia em cães costuma surgir entre os 4 e 12 meses de idade, especialmente em cães de médio e grande porte, como Labrador, Golden Retriever e Pastor Alemão. 

Displasia umerorradioulnar

A displasia umerorradioulnar compromete a articulação do cotovelo e é mais comum em cães de grande porte, geralmente entre os 4 e 8 meses de idade. 

Trata-se de uma condição mais complexa, que pode ser causada por diferentes alterações ósseas associadas à osteocondrose e incongruência articular.

Na maioria dos casos, os sintomas iniciais são discretos ou inexistentes. Porém, com a progressão da doença, o animal passa a apresentar claudicação nos membros anteriores, dor e limitação de movimento. 

Outras formas menos comuns

Embora menos frequente, a displasia também pode acometer outras articulações, como:

  • ombros – especialmente em raças grandes, podendo causar dor e instabilidade;
  • joelhos – geralmente associada a outras alterações ortopédicas ou congênitas;
  • múltiplas articulações – em distúrbios genéticos mais severos, com comprometimento generalizado.

Quais são os sintomas da displasia em cães?

O sinal mais frequente da displasia em cães é a claudicação (mancar), geralmente notada após atividades físicas ou ao acordar.

Com a progressão da doença, é comum observar dificuldade para se levantar, caminhar ou subir escadas, além de mudanças comportamentais, como apatia ou irritação causadas pela dor crônica.

Vale destacar que esses sinais não se manifestam da mesma forma em todos os cães. A apresentação clínica da displasia varia conforme o tipo, a idade do animal e o estágio da doença.

Um filhote, por exemplo, pode apresentar apenas leve instabilidade ao caminhar. Já um cão adulto pode demonstrar relutância em brincar ou sair para passear.

Mas, de modo geral, os principais sintomas de displasia em cachorro são:

  • Claudicação (cachorro mancando): uni ou bilateral;
  • Dificuldade para se levantar, correr ou subir degraus;
  • Marcha bamboleante ou andar com os “quartos traseiros abertos”;
  • Postura arqueada e sobrecarga nos membros anteriores;
  • Sentar de lado com frequência (posição desconfortável);
  • Quedas repentinas ao caminhar;
  • Diminuição da disposição para brincar ou se movimentar;
  • Atrofia muscular, especialmente nas patas traseiras;
  • Mudança de comportamento por dor crônica (apatia ou agressividade);
  • Estalos nas articulações ao se movimentar.

É importante destacar que a gravidade da displasia nem sempre está associada à intensidade dos sintomas.

Segundo estudos, até 70% dos cães com diagnóstico confirmado por exames de imagem não apresentam sinais clínicos evidentes, especialmente nos estágios iniciais (Gerosa, 1995).

Quanto mais cedo esses sinais forem identificados, maiores são as chances de controlar a progressão da doença e preservar a qualidade de vida do pet. Ao notar qualquer um desses sintomas, procure orientação veterinária o quanto antes.

Doenças com sintomas semelhantes à displasia

Alguns dos sintomas mencionados, como claudicação, dificuldade para caminhar ou sentar de lado, não são exclusivos da displasia.

Existem outras doenças ortopédicas e neurológicas que podem apresentar sinais semelhantes, o que reforça a importância de um diagnóstico veterinário preciso, como:

  • Artrite e artrose: doenças degenerativas das articulações que provocam dor, rigidez e claudicação, especialmente em cães idosos;
  • Hérnia de disco: afecção na coluna que pode gerar dor nas patas traseiras, dificuldade de locomoção e perda de coordenação motora;
  • Doenças medulares: como a mielopatia degenerativa ou traumas na coluna, que afetam a marcha e a força dos membros posteriores;
  • Ruptura de ligamento cruzado: causa claudicação súbita nos membros posteriores, com dificuldade imediata para apoiar a pata;
  • Luxações ou fraturas: geram dor aguda e impedem o apoio adequado do membro afetado.

Por isso, somente exames clínicos e de imagem realizados por um médico-veterinário podem diferenciar corretamente essas condições da displasia.

Como é feito o diagnóstico da displasia em cachorro?

O diagnóstico da displasia em cães deve ser realizado por um médico-veterinário, preferencialmente especializado em ortopedia.

A avaliação é baseada na análise do histórico do animal, sinais clínicos e exames complementares. A seguir, entenda como funciona o processo de diagnóstico:

1. Avaliação clínica

O primeiro passo é o exame físico e ortopédico completo, onde é avaliado:

  • o padrão de marcha (caminhar);
  • a postura do animal;
  • o nível de dor durante a movimentação ou palpação;
  • sinais de atrofia muscular e limitação de movimento.

Também são realizados testes de manipulação articular, nos quais o profissional movimenta cuidadosamente o quadril ou cotovelo para avaliar a amplitude de movimento, presença de crepitações e sinais de instabilidade.

2. Exames de imagem

Quando há suspeita de displasia, os exames de imagem são fundamentais para confirmar a doença e avaliar sua gravidade:

  • Radiografia (raio-X): exame mais comum, permite visualizar o encaixe da articulação, o desgaste da cartilagem e sinais de artrose.
  • Tomografia computadorizada (TC): usada em casos mais complexos, com maior detalhamento anatômico.
  • Exames complementares, como ressonância magnética, são indicados em casos específicos ou para diferenciar de outras doenças neurológicas ou ortopédicas.

3. Avaliação neurológica (quando necessária)

Caso haja dúvida sobre a origem da claudicação ou dificuldade de locomoção, o veterinário pode solicitar uma avaliação neurológica para descartar alterações no sistema nervoso ou condições ortopédicas com impacto neurológico secundário, como:

  • doenças medulares;
  • hérnia de disco com compressão dos nervos.

Principais fatores de risco e raças predispostas à displasia em cães

A displasia pode acometer cães de qualquer raça, porte ou idade, mas certos perfis apresentam risco significativamente maior de desenvolver a doença.

Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento da displasia, destacam-se:

  • Genética: cães com histórico familiar de displasia têm maior propensão à doença — é o principal fator de risco;
  • Raças de médio e grande porte: apresentam maior prevalência da condição;
  • Crescimento acelerado em filhotes: pode comprometer o desenvolvimento adequado das articulações;
  • Sobrepeso ou obesidade: aumenta a carga sobre as articulações e acelera o desgaste;
  • Excesso de exercício durante o crescimento: favorece microlesões e instabilidade articular;
  • Ambientes com piso escorregadio: aumentam o risco de traumas articulares, especialmente em cães jovens ou de raças grandes.

Também podemos destacar cachorros que vivem em ambiente com piso escorregadio,  aumenta risco de traumas articulares.

Progressão e complicações da displasia em cães

A displasia é uma doença ortopédica progressiva e degenerativa. Sem tratamento adequado, tende a se agravar com o tempo, mesmo quando os sintomas iniciais são leves.

Nos estágios iniciais, o cão pode apresentar apenas instabilidade articular e claudicação leve. Com o avanço da doença, surgem dor persistente, inflamação crônica e limitação de movimento.

Como consequência, há desgaste progressivo da articulação, deterioração da cartilagem e aumento do atrito entre os ossos.

No entanto, com o tratamento adequado, é possível retardar a progressão da displasia, evitar complicações e preservar a mobilidade do pet por mais tempo.

Displasia tem cura? Qual o tratamento indicado?

A displasia em cães não tem cura, mas pode ser controlada com o tratamento adequado, que visa aliviar a dor, retardar a progressão da doença e preservar a mobilidade.

O plano terapêutico varia de acordo com a idade, o porte do animal, o estágio da displasia e a gravidade dos sintomas.

Segundo a Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, os tratamentos disponíveis podem ser divididos em dois principais grupos: 

Tratamento clínico (conservador)

É indicado principalmente para casos leves ou moderados, filhotes em fase de desenvolvimento ou cães idosos, nos quais a cirurgia não é recomendada.

De acordo com o estudo citado, esse tipo de abordagem inclui:

  • Analgésicos e anti-inflamatórios (esteroidais ou não esteroidais), que ajudam a reduzir a dor e permitir que o cão se movimente melhor;
  • Condroprotetores, como glucosamina e condroitina, para manutenção da cartilagem;
  • Fisioterapia para cachorro, como caminhadas controladas, natação, hidroterapia e eletroterapia;
  • Controle rigoroso do peso, para reduzir a sobrecarga nas articulações;
  • Adaptação do ambiente, evitando pisos lisos e instalando tapetes antiderrapantes;
  • Acupuntura, que tem se mostrado eficaz no alívio da dor e na melhora da mobilidade;
  • Alimentação funcional, com rações específicas para suporte articular e controle de peso.

Em muitos casos, o tratamento clínico é suficiente para manter o pet ativo e com boa qualidade de vida por muitos anos.

Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico é indicado em quadros mais graves, quando o manejo clínico não apresenta melhora satisfatória ou quando há perda significativa de função articular.

A cirurgia mais utilizada é a prótese total de quadril, indicada para cães com mais de dois anos, quando os ossos já estão plenamente formados para receber o implante.

As principais técnicas incluem:

  • Osteotomia pélvica tripla (OPT): indicada para cães jovens, sem sinais de artrose e com articulação ainda em desenvolvimento;
  • Remoção da cabeça do fêmur (colocefalectomia): reduz o contato ósseo e a dor em casos avançados;
  • Prótese total de quadril: indicada para cães com displasia severa, devolve funcionalidade e melhora o conforto;
  • Dartroplastia: alternativa para cães jovens que não podem passar por OPT ou prótese total;
  • Pectinectomia e acetabuloplastia: técnicas complementares que visam melhorar o encaixe articular;
  • Denervação da cápsula articular: utilizada para alívio da dor em estágios crônicos;
  • Osteotomias diversas (como osteotomia intratocantérica) para correção de deformidades.

Como prevenir a displasia em cães?

Embora a displasia em cães tenha, na maioria das vezes, origem genética, é possível adotar medidas preventivas que reduzem significativamente os riscos — especialmente em raças predispostas e filhotes em fase de crescimento.

Entre as principais formas de prevenção estão:

  • Triagem genética em cães reprodutores

    Criadores devem realizar radiografias e exames ortopédicos nos reprodutores antes do acasalamento, reduzindo o risco de transmitir a condição para os filhotes.
  • Alimentação balanceada desde filhote

    Raças grandes devem receber rações específicas para seu porte e fase de vida, evitando o crescimento acelerado e desproporcional que sobrecarrega as articulações.
  • Controle de peso

O excesso de peso é um dos principais fatores que agravam a displasia. Mantenha o cão dentro da faixa ideal desde os primeiros meses.

  • Evite pisos escorregadios e saltos frequentes

    Instale tapetes antiderrapantes e evite brincadeiras com impacto, principalmente em filhotes em crescimento.
  • Atividades físicas moderadas

    Caminhadas controladas, natação e enriquecimento ambiental ajudam a fortalecer a musculatura, sem sobrecarregar articulações.
  • Exames ortopédicos preventivos em raças predispostas

    Raças como Labrador, Golden, Pastor Alemão e Rottweiler devem fazer radiografias entre os 4 e 6 meses para avaliação precoce da articulação.

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Por Joe Oliveira

Redator

Sou jornalista desde 2016 e vivo cercado pelos meus pets! Sou pai do Zé e do Tobby, um Shih Tzu e um Vira-lata, da Mary, uma gatinha branca, e do Louro, um papagaio (claro!). Escrevo para Cobasi ajudando outros tutores a cuidar dos seus pets.

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