Fluidoterapia em cães: o que é, como funciona, tipos e quando fazer

Por Joe Oliveira   Tempo de leitura: 10 minutos

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fluidoterapia em cães

A fluidoterapia em cães é um tratamento essencial na medicina veterinária, feito com a aplicação controlada de fluidos, como soro e soluções específicas, diretamente no organismo do animal.

Seja em casos simples de desidratação ou em situações mais graves, como doenças renais, o uso de fluidos ajuda a restabelecer o volume de sangue circulante (volemia) e corrigir desequilíbrios eletrolíticos e metabólicos.

De acordo com o trabalho acadêmico Fluidoterapia em cães e gatos: revisão de literatura, trata-se de um dos recursos mais importantes da rotina clínica veterinária, especialmente em emergências e no tratamento de suporte para cães debilitados.

Neste artigo, elaboramos um guia rápido sobre os principais temas que envolvem a fluidoterapia: quando e por que esse procedimento é indicado, como é feito e quais os tipos mais comuns.

Tudo de forma clara, didática e com respaldo científico — para que você, tutor, entenda como a fluidoterapia pode salvar vidas e proteger quem você mais ama.

Quando a fluidoterapia é indicada para cães?

A fluidoterapia em cães é indicada como tratamento de suporte em diversas condições clínicas e emergenciais, tanto em quadros agudos quanto em tratamentos prolongados. Entre os principais contextos clínicos estão:

Desidratação leve, moderada ou grave

Pode ocorrer por febre, vômito, diarreia, infecções, exposição prolongada ao calor ou ingestão reduzida de água. Mesmo quadros leves precisam ser corrigidos rapidamente para evitar complicações (que complicações, acha que é preciso explic.

Distúrbios eletrolíticos

Alterações nos níveis de sódio, potássio ou cálcio no sangue afetam diretamente o funcionamento de músculos, coração e sistema nervoso. Alguns exemplos são:

  • hiponatremia (sódio baixo);
  • hipocalemia (potássio baixo);
  • hipercalemia, hipocalcemia e hipercalcemia (afetam o funcionamento neuromuscular e cardiovascular).

Acidose ou alcalose metabólica

Alterações no pH do sangue, que dificultam o funcionamento normal das células e órgãos, exigindo correção rápida com o fluido apropriado.

Hipovolemia e choque circulatório

Em casos de hemorragia, queimaduras extensas ou diarreia intensa, o volume de sangue circulante pode cair drasticamente. Nesses casos, a fluidoterapia intravenosa é essencial para evitar falência de órgãos vitais.

Infecções graves e toxemias

fluidoterapia veterinária

Como a sepse (infecção bacteriana generalizada), além de intoxicações graves e processos inflamatórios sistêmicos, que causam queda de pressão e comprometem a circulação.

Perdas hídricas ocultas

Como acúmulo de líquido no abdômen ou tórax, também conhecido como “terceiro espaço”, exigem reposição controlada.

Nutrição e suporte metabólico

Além da reposição de água e sais minerais, a fluidoterapia também pode ser usada para suporte calórico e nutricional por via parenteral. 

Nesse caso, a administração de nutrientes ocorre diretamente na corrente sanguínea, indicada quando o cão não consegue se alimentar adequadamente por via oral.

Sendo comum indicada para cães muito debilitados, auxiliando na manutenção da energia, na recuperação metabólica e na resposta ao tratamento.

Fluidoterapia para cães com doença renal

Um dos usos mais frequentes da fluidoterapia em pequenos animais é no suporte a cães com insuficiência renal crônica (IRC)

Nesses casos, os rins perdem parte da capacidade de filtrar toxinas do sangue, o que pode causar uma série de desequilíbrios. Sendo assim, a fluidoterapia ajuda a:

  • estimular a diurese (produção de urina);
  • diluir toxinas como ureia e creatinina;
  • corrigir alterações eletrolíticas e ácido-básicas;
  • melhorar o apetite e o bem-estar geral do animal.

O protocolo pode variar bastante: em alguns casos, o cão recebe soro diariamente por via subcutânea, sob orientação do veterinário. Já em outros, a aplicação é pontual, dependendo da evolução da doença e do quadro clínico.

Esse tipo de tratamento deve sempre ser acompanhado por exames laboratoriais regulares para ajustar a frequência e o tipo de solução utilizada.

Benefícios da fluidoterapia em cães

A fluidoterapia oferece uma série de benefícios importantes para o organismo do animal:

  • correção rápida da desidratação;
  • reposição de eletrólitos (como sódio e potássio) e nutrientes;
  • melhora da perfusão tecidual (circulação do sangue nos tecidos);
  • estabilização da pressão arterial;
  • suporte em crises metabólicas, internações e cirurgias prolongadas.

Além disso, é importante lembrar que a água representa cerca de 60% do peso corporal dos cães adultos — percentual que pode chegar a 80% nos filhotes e até 90% em fêmeas gestantes ou lactantes.

Para que o organismo funcione corretamente, é essencial manter o equilíbrio (homeostase) entre a quantidade de líquidos, íons e outros componentes.

fluidoterapia em cães renais

Casos de desidratação e choque são frequentes na clínica de pequenos animais. Nessas situações, a fluidoterapia é essencial para repor rapidamente água e eletrólitos, restabelecer a estabilidade do organismo e, muitas vezes, salvar vidas.

A fluidoterapia em cães tem contraindicações?

Apesar de ser um recurso terapêutico amplamente utilizado e seguro, a fluidoterapia em cães não é isenta de riscos. 

Por isso, existem algumas contraindicações, ou seja, situações em que o tratamento deve ser evitado ou criteriosamente ajustado pelo médico veterinário.

Entre os cenários em que a fluidoterapia pode ser contraindicada estão:

  • sobrecarga circulatória ou edema pulmonar pré-existente;
  • doença cardíaca descompensada;
  • hiponatremia crônica severa;
  • doenças hepáticas com ascite intensa;
  • quadros de oligúria ou anúria sem diagnóstico definido.

Quais são os tipos de fluidoterapia em cães e como são aplicados?

A escolha do tipo de fluidoterapia em cães depende do estado clínico, do objetivo terapêutico e da urgência do tratamento. 

Por isso, somente o médico veterinário pode indicar a via de administração mais adequada e definir o volume, a composição e a velocidade de infusão dos fluidos. Abaixo, explicamos os principais tipos utilizados na rotina clínica:

Fluidoterapia intravenosa (IV)

É a mais usada em casos moderados a graves, especialmente quando o cão apresenta desidratação severa, choque, infecções sistêmicas ou precisa de reposição rápida de volume.

A aplicação é feita diretamente na veia, com monitoramento constante. Como os efeitos são imediatos, a terapia é indicada em situações emergenciais e hospitalares. A taxa de infusão deve ser ajustada com precisão para evitar complicações como edema pulmonar.

Fluidoterapia subcutânea em cães

Mais comum em tratamentos ambulatoriais ou crônicos, como em cães com doença renal. Nesse caso, o fluido é aplicado no espaço logo abaixo da pele, formando uma “bolsa” visível que é absorvida ao longo de algumas horas.

É uma via de fácil aplicação e pode, em alguns casos, ser realizada em casa com orientação e supervisão veterinária. No entanto, não é indicada em situações de desidratação grave, hipotensão ou choque, pois a absorção é lenta.

Fluidoterapia oral

É usada como forma de suporte leve, quando o cão ainda tolera bem a ingestão por via oral e não apresenta vômitos ou diarreia severa. Pode ser feita com soro caseiro, soluções eletrolíticas específicas ou prescritas pelo veterinário.

Apesar de prática, não substitui a fluidoterapia intravenosa ou subcutânea em quadros moderados ou graves.

Fluidoterapia em cães apenas com orientação veterinária

fluidoterapia em pequenos animais

A fluidoterapia não deve ser feita de forma caseira, ou seja, a escolha entre as vias de administração não deve ser feita pelo tutor. 

O tratamento exige avaliação clínica e, muitas vezes, exames complementares para definir o melhor tipo, volume e duração.

Mesmo em cães que já utilizam soro de forma contínua (como em doenças renais), cada aplicação deve ser individualizada, levando em conta peso, estado geral e alterações recentes nos exames.

Em quanto tempo a fluidoterapia faz efeito em cães?

Os efeitos da fluidoterapia geralmente são percebidos nas primeiras horas após o início do tratamento, especialmente quando administrada por via intravenosa. 

Em casos leves, como desidratação simples, a recuperação pode ser rápida. Já em quadros graves, a melhora é gradual e exige monitoramento contínuo.

Importante validar: a fluidoterapia não substitui o tratamento da causa principal. Ela atua como suporte essencial que permite ao organismo se recuperar melhor e responder de forma mais eficiente à medicação, à cirurgia ou ao manejo clínico indicado pelo veterinário.

É necessário algum preparo antes da fluidoterapia em cães?

Normalmente, a fluidoterapia em cães é realizada em ambiente clínico, sem a necessidade de preparo prévio em casa por parte do tutor.

No entanto, antes de iniciar o procedimento, o médico-veterinário realiza uma avaliação clínica completa para garantir a segurança e a eficácia do tratamento. 

Entre os pontos fundamentais dessa avaliação estão:

  • sinais de desidratação (pele, mucosas, olhos);
  • frequência cardíaca, respiratória e pulso;
  • peso corporal atual;
  • diurese (volume de urina);
  • temperatura e perfusão periférica (avaliação da circulação sanguínea nas extremidades, como patas e mucosas).

Esses dados são fundamentais para que o veterinário determine:

  • se a fluidoterapia é indicada;
  • qual o tipo de fluido a ser utilizado (isotônico, hipertônico, com glicose, etc.);
  • qual a via de administração mais segura (intravenosa, subcutânea ou oral);
  • qual o volume e a velocidade de infusão apropriados.

Exames laboratoriais

Em muitos casos, o veterinário também solicita exames para orientar o protocolo de fluidoterapia com mais precisão, como:

  • hemograma;
  • ureia e creatinina (função renal);
  • eletrólitos (sódio, potássio, cálcio, cloro);
  • glicemia;
  • proteínas totais e albuminas.

Preparos específicos para aplicações em casa

Em alguns casos, como em cães com doença renal crônica que recebem fluidoterapia subcutânea em casa, o tutor precisará aprender a manipular os materiais com higiene e segurança.

É importante armazenar corretamente os frascos de soro, aplicar na região correta e respeitar o volume indicado a cada sessão.

Nesses casos, o procedimento deve ser ensinado e supervisionado pelo veterinário, com retornos regulares para reavaliações e eventuais ajustes no protocolo.

Quais são os efeitos colaterais da fluidoterapia em cães?

o que é fluidoterapia

A fluidoterapia em cães, quando realizada corretamente e sob orientação veterinária, é considerada um procedimento seguro e com baixíssimo risco de efeitos colaterais.

No entanto, como qualquer intervenção médica, reações adversas podem ocorrer — especialmente se houver erros na aplicação, falhas na técnica ou inadequação do protocolo à condição clínica do animal.

Os principais efeitos colaterais possíveis são:

Reações locais (subcutânea)

  • inchaço no local da aplicação: geralmente quando é reabsorvido em poucas horas;
  • dor ou sensibilidade leve na região;
  • vazamento de fluido pela agulha, quando mal posicionada;
  • inflamação ou infecção local (raro, e mais frequente quando o procedimento é feito em casa sem higiene adequada).

Complicações sistêmicas (intravenosa)

Mais raras, mas potencialmente graves, podem ocorrer quando a taxa ou o volume de infusão ultrapassam a capacidade de tolerância do organismo:

  • edema pulmonar (acúmulo de líquido nos pulmões) com sintomas como tosse, respiração acelerada ou dificuldade respiratória;
  • sobrecarga circulatória, especialmente em cães com problemas cardíacos;
  • desequilíbrio eletrolítico secundário, quando o fluido escolhido não corresponde à necessidade real do paciente (ex.: excesso de sódio ou potássio);
  • febre ou reação adversa à solução, embora incomum, pode ocorrer.

Gostou do conteúdo? Aqui no Blog da Cobasi você encontra outras dicas sobre saúde, bem-estar e cuidados veterinários com o seu pet. Até a próxima!

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Por Joe Oliveira

Redator

Sou jornalista desde 2016 e vivo cercado pelos meus pets! Sou pai do Zé e do Tobby, um Shih Tzu e um Vira-lata, da Mary, uma gatinha branca, e do Louro, um papagaio (claro!). Escrevo para Cobasi ajudando outros tutores a cuidar dos seus pets.

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11 Comentários

  1. Jerry Adriany disse:

    Olá, gostaria que me enviassem mais conteúdos, sobre fluido terapia em cães paciente renal.

  2. Miriam almeida dos Santos disse:

    GOSTARIA DE MAIS ARTIGOS SOBRE A FLUIDOTERAPIA EM CÃES RENAIS. E POR FAVOR QUAIS ALIMENTOS UM CÃO RENAL PODE COMER ALÉM DA RAÇÃO RENAL.

  3. Adriana disse:

    Em um exame de sangue , deu creatinina aumenta. O veterinário passou SF todos os dias por via subcutânea. Não tem perigo de sobrecarregar os rins ou o coração, já que os rins estão entrando em falência ?

    • Cobasi disse:

      Oi, Adriana. Como vai? É importante que essas dúvidas sejam sanadas com o profissional que está atendendo o seu pet. Apesar com avaliação clínica e exames é possível indicar o tratamento mais adequado.

  4. Roseli souza abadi disse:

    Olá levei meu bebê pet no veterinário e ele fez fluidoterapia as 21 horas de ontem ele está como se tivesse chapado nao concegue ficar em pé e esta muito gelado principalmente as patas todas isto é normal ?

    Estou aquecendo ele com cobertores e o secador

  5. Mari disse:

    Meu cachorro estar com manchas avermelhadas na pele e algunhas tem
    Feridas saindo água e sangue e outras manchas são roxas e os olhos estão bem vermelho e com remelas .Não tenho dinheiro para levar ao veterinário, oque eu faço
    Em casa , gosto muito da Amora estou desesperada mim ajuda por favor.

  6. Marcia disse:

    É normal ficar uma bolsa liquida no local da aplicação por mais de uma hora? Minha cachorrinha fez fluidoterapia com medicação e ajnda está inchada e meio pendurada na lateral do corpo

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