O que tartaruga come? Guia completo sobre a alimentação

A alimentação das tartarugas está diretamente ligada ao ambiente em que vivem e à fase da vida. Algumas espécies são herbívoras, outras onívoras, e há também aquelas com hábitos carnívoros ou frugívoros, dependendo da disponibilidade de alimento no habitat.

Neste guia, você vai entender como isso se aplica às três principais categorias de quelônios: as tartarugas-marinhas, os cágados (de água doce) e os jabutis (terrestres). Também compartilhamos dicas sobre como reproduzir essa dieta em casa com segurança

Para garantir informações confiáveis e atualizadas, este conteúdo contou com a colaboração do biólogo Thiago Sá. Confira!

O que cada tipo de tartaruga come? Veja as diferenças por espécie

Acompanhe as principais diferenças alimentares entre cada grupo e veja como adaptar a alimentação no ambiente doméstico de forma segura e responsável.

Tartaruga-marinha (família Cheloniidae)

As tartarugas-marinhas são répteis migratórios que pertencem à família Cheloniidae e vivem em ambientes oceânicos. No Brasil, seis espécies são registradas, incluindo:

• Tartaruga-verde (Chelonia mydas);
• Tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta);
• Tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata);
• Tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea);
• Tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea);
• Tartaruga-de-kemp (Lepidochelys kempii).

Essas espécies apresentam uma dieta predominantemente onívora na juventude, com forte tendência carnívora, tornando-se preferencialmente herbívora na fase adulta. 

A transição alimentar — de uma dieta rica em proteína animal para uma alimentação mais herbívora — costuma acontecer quando a carapaça do animal atinge entre 25 e 35 cm. Isso marca o início da fase adulta, com menor necessidade de proteína.

O que a tartaruga-marinha come na natureza?

Segundo estudo técnico desenvolvido pelo Projeto Tamar, cada espécie tem preferências alimentares específicas, adaptadas à sua fisiologia e ao ecossistema onde vive:

• A tartaruga-verde consome preferencialmente algas e gramíneas marinhas;
  
• A tartaruga-oliva se alimenta de crustáceos, peixes e moluscos;
  
• A tartaruga-de-couro tem dieta quase exclusiva de águas-vivas e organismos gelatinosos;
  
• A tartaruga-cabeçuda utiliza sua mandíbula poderosa para triturar caranguejos, moluscos e mexilhões;
  
• A tartaruga-de-pente prefere esponjas, mas também ingere anêmonas, algas e pequenos crustáceos.

Além dessas particularidades, fatores como região de migração e profundidade de mergulho influenciam diretamente os hábitos alimentares de cada indivíduo. 

O biólogo Thiago Sá também destaca a alimentação das tartarugas por fase da vida:

Como é a alimentação de tartarugas-marinhas em centros de conservação?

Por serem espécies ameaçadas de extinção e protegidas por leis ambientais (Decreto nº 3842/2001), não é permitido manter as tartarugas-marinhas como pets ou em cativeiro doméstico. 

Sua criação é restrita a instituições de pesquisa e conservação autorizadas, como o Projeto Tamar.

Nesses centros, o manejo alimentar é cuidadosamente planejado para simular as condições naturais da espécie e favorecer sua reabilitação. A dieta é composta por:

• Peixes frescos (sem gordura, sal ou temperos);
• Vegetais marinhos, como algas e gramíneas específicas;
• Suplementação vitamínica e mineral, conforme necessidade clínica.

Todo o processo é acompanhado por veterinários, biólogos e técnicos especializados, respeitando o estado de saúde, idade e comportamento alimentar de cada animal.

Cágado (família Chelidae) 

Os cágados são parentes das tartarugas. Tem hábito semiaquático de água doce, com casco achatado e membranas interdigitais nos membros que facilitam a natação. 

São répteis que vivem em rios, igarapés, lagos e ambientes pantanosos, onde buscam alimento na água, mas também vão à terra para forragear, realizar termorregulação e pôr seus ovos (Cubas & Baptistotte, 2007).

No Brasil, os gêneros mais comuns em cativeiro incluem Trachemys, Hydromedusa, Phrynops e Podocnemis, com mais de 25 espécies conhecidas.

O que o cágado come na natureza?

Os cágados têm uma alimentação onívora, oportunista e adaptativa. Isso significa que eles consomem o que está disponível em seu habitat, o que pode incluir:

• plantas aquáticas, sementes e frutos;
• invertebrados, peixes, insetos, larvas e matéria orgânica morta.

Além disso, sua dieta muda conforme a fase da vida e as condições sazonais: durante a estação das frutas, por exemplo, é comum que aumentem o consumo de matéria vegetal.

Já os juvenis ingerem mais proteína animal, essencial para o crescimento e fortalecimento do casco.

De modo geral, a composição alimentar média observada na natureza é:

Segundo estudos, os cágados desempenham um papel fundamental nos ecossistemas aquáticos e terrestres. Eles ajudam na reciclagem de nutrientes, ao digerirem matéria orgânica animal e vegetal (Moll & Moll, 2004).

Como também são presas naturais de diversos predadores, como lontras, raposas-do-campo, javalis, garças, cegonhas e aves de rapina.

O que o cágado pode comer em casa?

Em cativeiro, a base da alimentação dos cágados deve ser ração. O alimento é especificamente desenvolvido para atender as necessidades nutricionais da espécie, com níveis ideais de proteína, fibras, cálcio e outros nutrientes essenciais.

No entanto, para enriquecer o comportamento alimentar e promover estímulos ambientais, é possível complementar a dieta com alimentos naturais oferecidos de forma controlada, desde que compatíveis com a fisiologia do animal.

É importante destacar que os alimentos naturais são complementares e não devem substituir a ração, especialmente para filhotes ou animais em fase de recuperação nutricional.

Cuidados essenciais com a alimentação

Para garantir a saúde e longevidade do cágado em ambiente doméstico, é essencial adotar hábitos alimentares corretos e manter o manejo sob controle, como:

• Mantenha a ração como base da alimentação: ofereça a quantidade diária recomendada pelo fabricante, respeitando o tamanho, idade e espécie do animal;
  
• Use alimentos complementares com moderação: folhas, frutas e crustáceos desidratados podem ser incluídos duas a três vezes por semana, como forma de estimular o forrageamento e enriquecer o ambiente;
  
• Alimente sempre em recipiente seco e fora da água, para evitar contaminação e proliferação de fungos e bactérias;
  
• Retire os restos de alimento após 20 minutos, mantendo o terrário limpo e higiênico;
  
• Mantenha a água sempre limpa, com pH estável e temperatura adequada, conforme a espécie criada;
  
• Nunca alimente o cágado exclusivamente com vegetais ou carnes cruas. O equilíbrio entre ração e complementos naturais, deve ser feito sob supervisão veterinária, o que garante crescimento saudável, boa digestão e qualidade de vida.
  
• Garanta exposição à luz solar direta (pelo menos 30 minutos por dia) ou utilize lâmpadas UVB específicas para répteis, que são fundamentais para a absorção de cálcio e prevenção de doenças metabólicas ósseas.

Alimentos proibidos para cágados

Alguns alimentos são perigosos e devem ser terminantemente evitados:

• pães, arroz, massas ou alimentos humanos processados;
• carnes cruas, fritas ou temperadas;
• frutas com sementes grandes ou duras;
• espinafre e ruibarbo em excesso (ricos em oxalato de cálcio);
• laticínios ou derivados de leite;
• doces, açúcar ou frutas fermentadas;

O que filhote de cágado come?

Filhotes de tartaruga aquática precisam de atenção redobrada com a nutrição, para desenvolver bem o casco e a estrutura óssea. Eles devem comer:

• 2 vezes por dia, em pequenas porções;
  
• Dieta rica em cálcio e fósforo, com folhas escuras e alimentos fortificados;
  
• Proteína de origem animal (no caso das aquáticas) para estimular o crescimento.

Monitore sempre o comportamento, o apetite e a resposta do animal. O ideal é contar com orientação de um médico-veterinário especializado em répteis, que pode montar um plano alimentar personalizado, incluindo uso seguro de rações, vegetais e suplementação.

Jabuti (família Testudinidae)

Conhecido popularmente como “tartaruga terrestre”, o jabuti pertence à família Testudinidae e é nativo da América do Sul. No Brasil, as espécies mais comuns são o jabuti-piranga (Chelonoidis carbonarius) e o jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus).

Esses quelônios têm comportamento terrestre e alimentação exclusivamente herbívora, com tendência frugívora em épocas de abundância de frutas. 

Eles não possuem adaptações fisiológicas para metabolizar proteína animal de forma constante, o que exige uma dieta vegetal rica em fibras, com baixo teor de gordura e controle do teor de fósforo.

O que o jabuti come na natureza?

De acordo com estudos da UFRGS e da revista Biota Neotropica, a alimentação natural dos jabutis é baseada em uma combinação de folhas, flores e frutos encontrados no solo da floresta.

Durante a juventude, os jabutis precisam de mais cálcio e fósforo, fundamentais para a formação da carapaça e estrutura óssea.

O que o jabuti come em cativeiro?

Em ambiente doméstico, a alimentação do jabuti deve seguir os mesmos princípios da vida livre: diversidade, equilíbrio e base vegetal. 

No entanto, diferentes autores apontam que a inclusão de proteína animal uma vez por semana pode ser recomendada em cativeiro, especialmente em fases de crescimento ou reprodução, desde que feita com moderação e sob orientação especializada. 

Cuidados importantes com a alimentação

• Nunca ofereça proteína animal em excesso. O metabolismo do jabuti não suporta dietas carnívoras frequentes;
  
• Prefira folhas e vegetais fibrosos como base alimentar; evite alface comum (pobre em nutrientes) e espinafre em excesso (rico em oxalato de cálcio);
  
• Mantenha água fresca disponível em recipiente raso para que o jabuti possa beber e se hidratar quando necessário;
  
• Evite frutas muito doces ou em excesso (como mamão, manga e melancia), pois podem causar diarreia e obesidade.
  
• Anote o que seu jabuti come melhor. Esse é um ponto de atenção para ajudar a identificar preferências e sinais de saúde ou apatia alimentar.

Dúvidas comuns sobre alimentação de tartarugas

Tartaruga come peixe?

Não é a melhor das opções. O biólogo Thiago Sá responde: É verdade que na natureza as tartarugas marinhas podem se alimentar de peixe, porém, para as espécies domesticadas de jabutis e cágados, a melhor fonte de proteína animal está nos pequenos crustáceos, como artêmias e gammarus (uma pequena espécie de camarão).

Posso dar comida de humano para minha tartaruga?

Não é recomendado. Alimentos humanos como arroz, pão, carnes processadas ou temperadas podem causar desequilíbrios nutricionais e, em alguns casos, intoxicações.

Tartarugas precisam de dietas específicas para sua fisiologia, que respeitem o metabolismo lento e a necessidade de nutrientes específicos.

Pode dar flores de floricultura para a tartaruga?

Não. Flores de floricultura geralmente contêm resíduos de agrotóxicos, fertilizantes e conservantes, que podem ser altamente tóxicos para répteis.

Se quiser oferecer flores comestíveis como hibisco, dente-de-leão ou amor-perfeito, opte por plantas cultivadas de forma orgânica em casa ou em jardins sem uso de produtos químicos.

Pode oferecer abacate para tartaruga?

Não, o abacate contém uma substância chamada persina, um composto lipossolúvel que pode ser tóxico para répteis, aves e outros animais.

Além disso, é uma fruta muito gordurosa, podendo provocar problemas hepáticos, distúrbios digestivos e acúmulo de gordura corporal, especialmente em espécies terrestres como o jabuti.

O conteúdo te ajudou? Se quiser saber mais sobre esses répteis incríveis no Blog da Cobasi você encontra conteúdos exclusivos, como: Qual a diferença entre jabuti e tartaruga? Até a próxima!