Cinofobia: sintomas, causas e tratamento para o medo de cachorro

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Por Cobasi   Tempo de leitura: 10 minutos

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Cinofobia: o medo de cachorros

A cinofobia é o medo intenso e irracional de cães, que faz com que a pessoa sinta muita ansiedade, medo e até pânico diante da presença ou mesmo a ideia de um cachorro. 

Esse medo exagerado é um tipo de zoofobia — medo de animais — uma condição séria reconhecida no Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5).

Fobias específicas como essas são bastante comuns e fazem parte dos transtornos de ansiedade, afetando cerca de 13% das mulheres e 4% dos homens no mundo (Barnhill et al., 2018). 

A cinofobia geralmente surge após experiências traumáticas relacionadas aos cães, e pode prejudicar a rotina e o bem-estar de quem vive com ela.

Por ser um distúrbio psiquiátrico, o tratamento para a fobia de cachorro requer acompanhamento com profissionais de saúde mental. 

Neste artigo, descubra o que é a cinofobia, seus sintomas, causas, como identificar e superar esse medo. Boa leitura!

Cinofobia: o que é?

A cinofobia (do grego kynos, cão, e phobos, medo) é um tipo de fobia caracterizada pelo medo irracional e desproporcional de cachorros, independentemente do porte, raça ou comportamento do animal.

Logo, pessoas com o transtorno podem entrar em pânico tanto diante de um Pastor Alemão grande e irritado quanto de um Maltês calmo e dócil. 

Isso porque o pavor não está relacionado a um risco real, mas sim a uma resposta emocional descontrolada.

De acordo com Calvo et al. (2013), o medo de cachorros está presente em cerca de 1 a cada 3 pessoas que buscam tratamento para fobias relacionadas a animais, como o medo de aranha e cobras.

No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a cinofobia compõe o  grupo de fobias específicas, sendo um tipo de transtorno de ansiedade.

Medo de cachorro e cinofobia são a mesma coisa? 

Não! Embora os termos medo e fobia sejam usados como sinônimos no dia a dia, eles se referem a reações emocionais diferentes e envolvem mecanismos distintos do cérebro.

Segundo Ballantyne (2018), o medo é uma resposta emocional, fisiológica e comportamental saudável que prepara o corpo para uma ameaça em potencial — como um cachorro bravo e desconhecido.

A fobia, por sua vez, vai muito além disso. De acordo com Beaver (1999), ela é uma reação de medo exagerada, persistente e desproporcional ao estímulo desencadeador.

Pessoas com cinofobia podem sentir pavor ao ver um cachorro calmo e amigável, mesmo que ele esteja distante, em um quintal fechado. 

Na verdade, a simples lembrança ou antecipação do contato com o animal gera mal-estar, independentemente do pet estar presente ou não (PALESTRINI, 2009).

Por isso, é importante esclarecer que o medo de cachorro comum e a cinofobia são coisas bem diferentes

O ponto chave para distinguir as condições é a intensidade e proporcionalidade da reação à ameaça real de perigo.

Quais são os sintomas da cinofobia?

A cinofobia provoca reações físicas e emocionais intensas, bem similares aos sintomas clássicos de crise de ansiedade.

Em casos graves, o simples fato de pensar em cachorros já é capaz de provocar quadros de pânico com sinais clínicos como:

  • paralisação;
  • falta de ar; 
  • crise de choro;
  • tremores; 
  • taquicardia; 
  • boca seca;
  • náusea; 
  • sudorese; 
  • tontura;
  • desmaios;
  • problemas gastrointestinais.

O que causa fobia de cachorro?

Segundo Rachman (1990), as fobias específicas, como a cinofobia, podem surgir por diferentes motivos. As causas mais comuns incluem:

Traumas e experiências negativas com cães

De acordo com Di Nardo et al. (1988), aproximadamente 50% dos adultos com cinofobia desenvolvem a condição após traumas e experiências negativas com cachorros.

Na psicologia, isso é chamado de condicionamento pavloviano, processo em que o cérebro associa um estímulo neutro — como um cachorro — a uma sensação negativa por conta de uma situação assustadora ou dolorosa vivida anteriormente. 

Logo, uma criança mordida por um cão pode passar a temer todos os cachorros, mesmo aqueles que são inofensivos e amigáveis. 

Entretanto, vale lembrar que essa teoria não explica 100% dos casos de cinofobia. Afinal, nem todas as pessoas desenvolvem o medo intenso após uma experiência ruim. 

Influência indireta: observação e avisos

Um estudo organizado por Doogan et al. (1992) mostrou que a transmissão de informação — como avisos e histórias — tem um papel importante no surgimento da cinofobia, especialmente durante a infância.

É o caso de crianças que crescem ouvindo advertências (frases como “cuidado, o cachorro vai te morder!”) ou convivem com pessoas com o transtorno e desenvolvem a condição por associação. 

Além disso, o simples ato de assistir a uma cena violenta na televisão — ataques e brigas de cachorro — também pode despertar uma resposta emocional intensa. 

Fatores emocionais e predisposição individual

O mesmo estudo observou que adultos com fobia de cães costumam relatar medo de outras situações diferentes, o que indica uma possível predisposição emocional. 

Isso significa que fatores internos e psicológicos podem tornar as pessoas mais propensas ao desenvolvimento destes quadros, como a ansiedade generalizada.

Quais são os gatilhos para crises de cinofobia?

Cinofobia: o medo de cachorros

Pessoas que sofrem de cinofobia não precisam estar perto de um cachorro para sentir medo ou ansiedade intensa. 

Esses estímulos que provocam a reação exagerada, mesmo sem contato direto com o animal, são chamados de gatilhos. 

No caso da cinofobia, eles geralmente incluem:

  • Ver um cachorro, independentemente do porte, raça e comportamento do pet.
  • Ouvir latidos e rosnados, mesmo que o animal não esteja presente.
  • Assistir um vídeo ou ver a imagem de um cachorro.
  • Pensar em um cão ou planejar uma visita a locais com cachorros.

Como saber se tenho cinofobia?

É normal você se sentir assustado ou desenvolver um certo receio de cachorros logo após um acidente ou mordida — e isso não significa que você tem cinofobia.

Quadros de fobia específica afetam a rotina das pessoas, impedindo que elas realizem tarefas simples e casuais pelo medo de encontrarem o objeto ou situação temida.

Para identificar se esse é o seu caso, analise as situações vividas e agende uma consulta com profissionais de saúde mental.

Diagnóstico de cinofobia

Médicos-psiquiatras identificam os quadros de cinofobia através da análise dos sintomas clínicos, histórico de saúde e possíveis eventos traumáticos relacionados.

O diagnóstico é fechado com base nos critérios definidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR). Veja quais são a seguir!

  • Fator imediato: a situação/objeto associado à fobia quase sempre provoca uma resposta rápida de medo ou ansiedade.
  • Comportamento: a pessoa evita ativamente ou enfrenta o objeto/situação com grande sofrimento.
  • Proporcionalidade: o medo é desproporcional ao perigo real.
  • Duração: os quadros de medo, ansiedade ou esquiva duram mais de 6 meses.
  • Impacto: a reação ao objeto/situação prejudica a vida da pessoa, afetando suas relações, trabalho ou bem-estar.
  • Causa primária: o quadro não é melhor explicado por outro transtorno mental, como síndrome do pânico, TOC, estresse pós-traumático, etc.

Quando ir ao médico?

É normal que algumas pessoas, especialmente crianças, sintam medo de cachorros em certos momentos da vida. 

Na maioria dos casos, esse desconforto é passageiro e desaparece com o tempo, à medida que a pessoa convive mais com os animais e aprende a se sentir segura. 

Mas quando a condição se torna muito intensa, dura mais de 6 meses e interfere nas atividades do dia a dia, é hora de procurar um psicólogo ou psiquiatra.

Esses profissionais vão avaliar o quadro com cuidado e, se necessário, indicar o tratamento ideal para cada paciente.

Qual é o melhor tratamento para o medo irracional de cães?

As fobias específicas, como a cinofobia, são classificadas dentro da psicopatologia do Transtorno de Ansiedade. 

Por isso, elas devem ser tratadas com seriedade e acompanhamento médico. Expor a pessoa a cachorros de maneira forçada e sem orientação adequada não ajuda e pode até agravar a condição.

Em geral, é um tratamento longo que inclui técnicas associadas à terapia cognitivo-comportamental (TCC) e o uso de certos medicamentos. 

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) parte do princípio de que atribuímos significados específicos aos acontecimentos e eles influenciam nossas emoções e comportamentos.

Logo, alguém que foi mordido por um cachorro pode passar a associar qualquer contato com cães a algo perigoso, desenvolvendo distúrbios psicológicos como a cinofobia.

A TCC atua na identificação e reestruturação dessas crenças distorcidas. Ela ajuda a reduzir a ansiedade e o medo associado à fobia por meio de metodologias específicas, como a terapia de exposição.

Terapia de exposição 

Segundo um artigo publicado na National Library of Medicine, a terapia de exposição é a abordagem psicoterapêutica mais eficaz no tratamento de fobias específicas.

Seu principal objetivo é interromper o ciclo de ansiedade e esquiva, levando a pessoa a enfrentar o objeto ou situação temida de maneira gradual e controlada.

Durante o tratamento, paciente e terapeuta constroem juntos uma lista de situações que despertam ansiedade — como ver um cachorro ou apenas pensar nele.

O processo começa pelos itens que causam menor desconforto. À medida que os estímulos temidos são apresentados, o cérebro começa a entender que aquelas situações não representam uma ameaça real. 

Esse processo de habituação reduz o medo e a ansiedade associados, melhorando os sintomas e devolvendo o controle da situação ao paciente. 

Técnicas de relaxamento

As técnicas de relaxamento são ferramentas muito utilizadas no tratamento de fobias específicas, geralmente aliadas às sessões de terapia cognitivo-comportamental.

Seu objetivo é promover respostas contrárias aos efeitos da ansiedade, como a tensão muscular, o aumento da frequência cardíaca e a respiração acelerada. 

Algumas das metodologias que se destacam são:

1. Relaxamento progressivo

O relaxamento progressivo envolve tensionar e depois relaxar grupos musculares específicos, permitindo que a pessoa perceba, alivie e controle a tensão. 

2. Relaxamento autógeno

O relaxamento autógeno consiste na mentalização de sensações de calor e peso nas extremidades do corpo, como as mãos e os pés. A técnica aumenta a concentração, melhorando o fluxo de pensamentos e regulando a frequência cardíaca. (SANTOS, 2018).

Farmacoterapia

Embora a psicoterapia seja a principal forma de tratamento da cinofobia, medicamentos podem ser indicados em situações específicas. 

Ansiolíticos, como o lorazepam, ou betabloqueadores, como o propranolol, costumam ajudar nos casos em que a exposição a cães é inevitável.

Mas atenção: essa abordagem não cura a fobia de cachorros, apenas alivia os seus sintomas. Então nunca tome nenhum medicamento sem a prescrição e o acompanhamento profissional.

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Esperamos que o texto tenha te ajudado a entender melhor a cinofobia e como lidar com o medo irracional de cachorros. 

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Referências técnicas:

Dog Behavior | Canine phobia

Behaviour Research and Therapy | Origins of fear of dogs in adults and children: The role of conditioning processes and prior familiarity with dogs

Universidade de Lisboa | Virtual Reality in the Immersive Treatment of Cynophobia Based on Gamification and Biofeedback

Contemporary Behavioral Health Care | Treatment of dog phobia in young people with autism and severe intellectual disabilities: An extended case series

Association for Computing Machinery | HemisFear: A Virtual Reality Exposure Therapy Prototype Driven by Cross-Cultural Understanding of Dog Phobia

Repositório Universidade Federal de Uberlândia | Uma proposta de ferramenta para dessensibilização sistemática com apoio de realidade aumentada no tratamento de fobias

Repositório Universidade Federal da Paraíba | Efeitos do Treinamento Autógeno na atividade cerebral e sobre a ansiedade em indivíduos com altos níveis ansiogênicos

Revista Brasileira de Terapias Cognitivas| Fobia específica: passo a passo de uma intervenção bem-sucedida

National Library of Medicine | Psychological approaches in the treatment of specific phobias: a meta-analysis

UOL Universa | Desmaiei quando um cachorro se aproximou: histórias de quem tem cinofobia

Jornal do Médico | Cinofobia: o medo irracional de cães

Psicanálise Clínica | Cinofobia ou medo de cachorro: causas, sintomas e tratamento

Cleveland Clinic | Cynophobia (Fear of Dogs)

Medical News Today | What to know about cynophobia

Oxford Academic | A fear of dogs

WebMD | What Is Cynophobia?

Manual MSD | Fobias específicas

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