
A epilepsia é um distúrbio neurológico caracterizado por convulsões recorrentes e imprevisíveis. Nos cães, trata-se de uma das condições neurológicas mais comuns observadas na clínica veterinária.
As crises epiléticas acontecem quando o cérebro do cachorro sofre descargas elétricas anormais, que resultam em movimentos involuntários, perda momentânea de consciência e mudanças de comportamento.
Do ponto de vista veterinário, considera-se epilepsia quando o cão apresenta crises repetidas sem causa aparente imediata.
O quadro pode trazer complicações graves, incluindo risco de óbito, o que torna essencial reconhecer os sinais, compreender as possíveis causas e buscar sempre apoio profissional.
Com a colaboração da médica-veterinária Nathalia Martins (CRMV-SP 39844), este artigo apresenta um guia completo sobre a epilepsia em cães: como identificar, quais são as opções de tratamento e os cuidados necessários para garantir qualidade de vida ao animal.
Os sintomas da epilepsia em cães podem variar bastante em intensidade e forma de apresentação. Segundo a médica-veterinária Nathalia Martins (CRMV-SP 39844):
“Haverá sinais bem claros, como a perda de consciência, o animal não consegue ficar em pé e normalmente cai de lado.”
A especialista ainda destaca que durante uma crise, também podem ser observados:
Além das convulsões generalizadas, existem as chamadas convulsões focais, que atingem apenas uma parte do cérebro.
Nesses casos, os sinais são mais sutis e podem incluir:
Como os sinais podem variar bastante, muitos tutores se perguntam: é possível prever quando o cachorro terá uma crise epiléptica? A Dra. Nathalia explica que sim:
“Existe um período chamado pré-ictal, que pode ocorrer minutos ou horas antes da convulsão. Durante esse período, alguns cães demonstram ansiedade, salivação sem motivo aparente e tremores faciais, o que pode servir como alerta para os tutores.”
Após a crise, os cães costumam entrar na fase chamada pós-ictal, caracterizada por desorientação, sonolência, sede excessiva e, em alguns casos, apetite aumentado. Esse período pode durar de alguns minutos a várias horas.
A epilepsia em cães pode ter causas genéticas, neurológicas, metabólicas ou estar associada a intoxicações. Em alguns casos, está ligada a doenças de base, como cinomose, diabetes, insuficiência renal ou hepática, além de situações de hipertermia.
A condição pode ser classificada em três tipos:
Além das doenças de base, alguns fatores também podem funcionar como gatilhos que aumentam a chance de crises convulsivas em cães predispostos:
É importante destacar que nem toda convulsão significa epilepsia. Existem as chamadas crises reativas, provocadas por distúrbios metabólicos ou tóxicos, que desaparecem após o controle da causa.
O diagnóstico de epilepsia é confirmado apenas quando as crises se tornam recorrentes e imprevisíveis, mesmo depois de descartadas outras doenças.
A epilepsia pode afetar cães de qualquer idade ou raça, mas alguns grupos apresentam maior probabilidade de desenvolver o distúrbio.
Segundo estudo da Cornell University College of Veterinary Medicine, a condição é mais comum em cães de raça pura, incluindo Beagle, Bernese Mountain Dog, Border Collie, Boxer, Cocker Spaniel, Labrador Retriever e Golden Retriever.
O artigo também sugere que os machos podem ser ligeiramente mais predispostos do que as fêmeas. Além disso, outros fatores de risco também foram identificados, como:
A veterinária Nathalia Martins destaca que, independentemente da raça ou idade, convulsões nunca devem ser encaradas como normais:
“Um animal saudável não convulsiona. Qualquer episódio já é um sinal de alerta e precisa ser investigado pelo veterinário.”
A epilepsia não é uma doença isolada, mas sim um sintoma de alterações neurológicas. Em cães, tende a ser uma condição crônica, exigindo acompanhamento veterinário ao longo de toda a vida.
A evolução pode variar: alguns animais apresentam crises esporádicas e bem controladas. Já outros desenvolvem episódios mais graves e recorrentes.
Com o tratamento correto e monitoramento contínuo, a maioria dos cães epilépticos consegue manter boa qualidade de vida. O risco de complicações aumenta quando o tutor demora a procurar atendimento ou interrompe a medicação sem orientação veterinária.
Infelizmente, sim. Embora a maioria das crises epiléticas não leve à morte imediata, situações graves podem ser fatais.
O maior risco é o status epilepticus, quando as crises se prolongam ou se repetem em sequência. Nesse cenário, o animal corre sério risco e precisa de atendimento veterinário de emergência.
Outro evento, mais raro, é o chamado SUDEP (Sudden Unexpected Death in Epilepsy), termo que, como o próprio nome indica, se refere à morte súbita inesperada associada à epilepsia.
Esse fenômeno, já descrito em humanos e animais, têm ocorrência considerada baixa, mas deve ser conhecido pelos tutores. Portanto, qualquer convulsão em cães deve ser encarada como um sinal de alerta:
“Nunca se deve deixar o animal ter várias crises sem intervenção. Isso pode causar danos irreversíveis ao sistema nervoso central e até colocar a vida do cão em risco.”, diz a doutora Nathalia.
Assistir a uma crise epiléptica é desesperador, mas manter a calma é essencial para proteger o animal. Durante a convulsão, o cão não tem consciência do que está acontecendo e seus movimentos são totalmente involuntários.
A médica-veterinária Nathalia Martins detalha os principais cuidados que os tutores devem ter.
O que fazer | O que não fazer |
Manter o cão em local seguro, longe de degraus, piscinas, móveis ou objetos cortantes. | Não coloque a mão ou objetos na boca do cão (ele pode morder involuntariamente e se machucar). |
Colocar o cachorro de lado, com a cabeça apoiada em algo macio (toalha ou cobertor). | Não ofereça alimentos ou medicamentos (há risco de engasgo ou aspiração para os pulmões). |
Observar outros animais da casa: cães podem atacar instintivamente o companheiro durante uma convulsão, por isso é importante separá-los. | Não pegue o animal no colo (pode causar quedas ou lesões na coluna). |
Essas medidas simples ajudam a evitar traumas e permitem que o tutor ofereça a segurança necessária até o atendimento veterinário.
O manejo da epilepsia em cães não se limita ao uso de medicamentos. A rotina tem papel fundamental para reduzir a frequência das crises e garantir qualidade de vida do pet.
A veterinária Nathalia Martins explica que cães epilépticos precisam de check-ups periódicos, pelo menos duas vezes ao ano, para monitorar a eficácia do tratamento e a saúde geral do organismo. Além disso, alguns ajustes na rotina fazem diferença:
“Assim como os humanos, os cães também precisam de hábitos saudáveis. O pet com vida sedentária, exposto a estresse e alimentado com rações ruins dificilmente terá bons resultados no tratamento.”
Registrar as crises do seu cachorro é um recurso valioso: anotar a data, a duração, os sinais antes e depois e, sempre que possível, gravar em vídeo. Essas informações auxiliam o veterinário a ajustar o diagnóstico e o tratamento com maior precisão.
O diagnóstico da epilepsia em cães é considerado de exclusão. Isso significa que o veterinário precisa descartar outras doenças capazes de causar convulsões antes de confirmar o quadro epiléptico.
“Não existe um exame único que confirme a epilepsia. O que fazemos é uma investigação completa, com exames de sangue, urina e imagem, para descartar outras causas possíveis. Só então chegamos ao diagnóstico de epilepsia idiopática, que é de causa desconhecida”, explica a veterinária Nathalia Martins.
Entre os exames mais usados no diagnóstico de epilepsia em cães, estão:
Além dos exames, o relato do tutor é peça-chave. Questionários detalhados sobre histórico de saúde, vacinação, alimentação e comportamento antes, durante e após a crise ajudam o veterinário a diferenciar corretamente o problema.
O exame neurológico realizado no período interictal (entre crises) também é essencial, pois permite identificar déficits persistentes que indiquem lesões estruturais no cérebro, reforçando ou afastando a hipótese de epilepsia.
Em resumo, o diagnóstico só é confirmado quando o cão apresenta crises recorrentes e imprevisíveis, sem que exames apontem uma doença de base como causa.
O tratamento da epilepsia em cães depende da causa. Quando a convulsão é consequência de uma doença de base, como diabetes e insuficiência renal, por exemplo, o controle da enfermidade pode cessar as crises.
Já nos casos de epilepsia idiopática (em que não se identifica uma causa específica), o manejo é feito com acompanhamento contínuo.
A epilepsia em cães não tem cura definitiva quando se trata da forma idiopática, ou seja, sem causa identificável. Nesses casos, o veterinário poderá indicar o tratamento com medicamentos anticonvulsivantes que controlam a frequência e a intensidade das crises.
A médica-veterinária Nathalia Martins (CRMV-SP 39844) explica:
“Quando descartamos doenças primárias e fatores externos e o animal continua apresentando crises, falamos em epilepsia idiopática. Nesses casos, tratamos os sintomas com as medicações necessárias para cada paciente.”
Há ainda situações em que a crise se torna uma sequela, como ocorre em alguns cães que tiveram cinomose, ou em casos de alterações congênitas e estruturais no cérebro. Nestes, o tratamento também é voltado para o controle dos sintomas.
O tratamento da epilepsia canina é baseado principalmente em medicamentos anticonvulsivantes. De acordo com a cartilha para tutores da UFMG (2024), o fármaco mais prescrito é o Fenobarbital, considerado o padrão ouro no controle das crises.
Esse medicamento, conhecido comercialmente como Gardenal, é seguro e eficaz, mas exige monitoramento. No início do uso, é comum o cão apresentar sonolência, aumento do apetite e da sede.
Esses efeitos tendem a estabilizar com o tempo, mas é importante controlar o peso do animal, já que a dosagem é calculada de acordo com os quilos do paciente.
O Fenobarbital leva em média 15 a 21 dias para atingir níveis estáveis no organismo. Depois desse período, o veterinário solicita exames de sangue para verificar a concentração do fármaco e avaliar se há necessidade de ajustar a dose.
Como o remédio pode aumentar enzimas hepáticas, exames periódicos de função do fígado também são indispensáveis. Além disso, outros medicamentos podem ser associados, dependendo da resposta do cão ao tratamento, como:
“O cão epiléptico precisa da medicação e não há outra opção de tratamento. O que podemos buscar são alternativas que ajudem a reduzir a dose dos anticonvulsivantes principais e, assim, minimizar os efeitos colaterais.”
Cada animal responde de forma única ao tratamento, por isso o acompanhamento veterinário regular é essencial para ajustar a terapia e garantir qualidade de vida.
A epilepsia idiopática, que é a forma mais comum, não pode ser prevenida, já que está ligada a fatores genéticos e não tem causa definida. Isso significa que não existe um tratamento preventivo capaz de impedir que ela se manifeste.
Por outro lado, existem medidas que ajudam a reduzir o risco de crises em cães predispostos ou que já receberam o diagnóstico:
Esses cuidados não eliminam a epilepsia, mas ajudam a manter o cão mais saudável e com menor risco de crises secundárias, aumentando a segurança e a qualidade de vida do pet.
A veterinária Nathalia Martins respondeu às principais dúvidas dos tutores sobre epilepsia em cães:
Na maioria dos casos, não. Com acompanhamento veterinário e uso correto da medicação, a expectativa de vida é semelhante à de um cão saudável. O risco aumenta apenas quando o tratamento não é seguido corretamente ou em emergências, como o status epilepticus.
Depende da gravidade e da frequência das crises. Episódios prolongados ou repetidos podem causar danos neurológicos, alterações de comportamento e até dificuldades motoras. Quando o tratamento mantém as crises sob controle, as sequelas costumam ser raras.
“Jamais administre medicamentos humanos por conta própria. Alguns fármacos que usamos em pessoas podem ser tóxicos e até fatais para os cães”, alerta Nathalia Martins.
Apenas o veterinário pode prescrever anticonvulsivantes e ajustar a dose correta para cada animal.
Algumas doenças apresentam sinais semelhantes às crises epilépticas e podem confundir os tutores, como:
A principal diferença é que, na epilepsia, geralmente há perda de consciência acompanhada de movimentos involuntários repetitivos. Apenas o veterinário pode diferenciar com segurança.
Não deve esperar. A medicação anticonvulsivante deve ser iniciada logo após a primeira crise epiléptica, ao mesmo tempo em que se investigam as possíveis causas.
Os anticonvulsivantes são indispensáveis. Nos primeiros dias podem causar sonolência, sede e aumento de apetite, mas esses efeitos tendem a se estabilizar.
Mas, ajustes de dose e terapias complementares ajudam a reduzir desconfortos, sempre com acompanhamento veterinário.
Qualquer convulsão já exige avaliação. Isso porque um animal saudável não convulsiona, a repetição dos episódios reforça a necessidade de uma investigação completa, de preferência com neurologista veterinário em casos complexos.
Não, embora raças como Border Collie, Beagle e Pastor Alemão sejam mais predispostas à epilepsia idiopática, o protocolo é o mesmo para todos: realizar exames e nunca tratar apenas presumindo o diagnóstico.
O mais frequente é relutar em dar o anticonvulsivante por achar que o cão fica “dopado”. Por isso, é importante conscientizar o tutor que esse efeito inicial tende a passar com o ajuste da dose.
Outro erro grave é interromper a medicação sem orientação ou tentar usar remédios humanos. Essas atitudes podem agravar as crises e colocar a vida do animal em risco.
Sempre que o cão apresenta uma crise convulsiva. A urgência é ainda maior se:
Nesses casos, o cão pode ter epilepsia refratária. A recomendação é internação hospitalar para estabilização, ajustes de terapia e avaliação por neurologista veterinário.
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Dra. Nathalia, com mais de 10 anos de experiência, é especializada em clínica médica e composição de ração. Ela oferece um atendimento humanizado e atende na unidade da Pet Anjo, dentro da Cobasi Valinhos, em SP.
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