Otite canina externa: como identificar, tratar e prevenir no seu cão

| Atualizada em

Por Cobasi   Tempo de leitura: 13 minutos

Compartilhar:
Compartilhar:
otite canina externa

A otite canina externa é uma doença dermatológica caracterizada pela inflamação da orelha do cachorro, atingindo o conduto auditivo e se estendendo até a parede externa da membrana timpânica.

Para entender melhor a condição, é importante lembrar que a orelha do cão é formada por três regiões: externa, média e interna.

A parte externa inclui o pavilhão auricular (parte visível da orelha) e o canal auditivo até o tímpano. Nessa área, glândulas produzem o cerúmen, substância que protege o ouvido, mas que em excesso pode favorecer inflamações.

A doença provoca dor, coceira, secreção e mau cheiro. É uma das afecções mais comuns em clínicas de pequenos animais e requer atenção imediata.

No Brasil, o Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia mostra que as infecções auriculares representam 8% a 15% dos atendimentos clínicos, sendo que a otite externa crônica corresponde a até 76,7% das otopatias em cães.

Reconhecer precocemente os sinais de otite no cachorro e buscar atendimento veterinário é essencial para impedir complicações, como a progressão para formas mais graves que podem causar perda auditiva permanente. 

Ao longo deste artigo, você vai entender as causas, sintomas, diagnóstico, tratamentos e formas de prevenção da otite canina externa, além de respostas para as dúvidas mais comuns dos tutores.

Quais são os sintomas da otite em cães?

A otite canina externa é caracterizada por um processo inflamatório intenso, que provoca alterações visíveis no ouvido e no comportamento do cão. A gravidade pode variar, mas alguns sinais clínicos são facilmente reconhecidos:

  • Prurido: coceira intensa na região das orelhas.

  • Meneios cefálicos: sacudir a cabeça de forma repetida.

  • Otorréia: secreção escura, amarelada ou purulenta.

  • Otorrema: odor desagradável proveniente do ouvido.

  • Otalgia: dor e sensibilidade ao toque no pavilhão auricular.

  • Eritema e edema: vermelhidão e inchaço na entrada do canal auditivo.

  • Lesões secundárias: crostas, descamação, ulceração e alopecia provocadas pelo ato de coçar.

  • Alterações comportamentais: irritabilidade, agitação e vocalização por desconforto.

  • Head tilt: inclinação da cabeça.

  • Otohematoma: hematoma auricular decorrente de traumas por coceira ou balanço excessivo da cabeça.

Quais são os tipos e os estágios da otite em cães?

Na medicina veterinária, a otite pode ser classificada conforme a porção anatômica acometida (externa, média ou interna), o comprometimento (unilateral ou bilateral) e a duração do quadro (aguda ou crônica).


TipoLocal afetadoGravidadePrincipais sinais
ExternaCanal auditivo externoMais comum e tratávelCoceira, secreção, mau cheiro
MédiaRegião atrás do tímpanoModeradaDor intensa, perda auditiva parcial
InternaEstrutura internas do ouvidoGravePerda de equilíbrio, surdez, complicações neurológicas


Os sintomas da otite em cães podem variar conforme a evolução da doença e a extensão do ouvido afetado. Clinicamente, a doença pode se apresentar nos seguintes estágios:

  • Aguda: sintomas surgem de forma repentina, geralmente associados a infecções ou alergias. Costuma responder bem ao tratamento quando diagnosticada cedo.

  • Crônica: inflamação persistente ou recorrente, difícil de controlar, com risco de lesões permanentes e perda auditiva.

  • Unilateral: afeta apenas um ouvido.

  • Bilateral: atinge os dois ouvidos ao mesmo tempo.

Reconhecer corretamente o tipo e o estágio da otite é essencial para definir o tratamento adequado e evitar complicações, como perda auditiva e alterações neurológicas.

O que causa a otite canina externa?

A otite canina externa (OE) não tem uma causa única. Trata-se de uma doença multifatorial que pode surgir por diferentes agentes e condições.

De modo geral, a enfermidade pode estar associada a quatro grandes grupos: causas primárias, causas secundárias, fatores predisponentes e fatores perpetuadores.

Cada grupo influencia de forma distinta o surgimento e a persistência da otite canina externa:

Fatores predisponentes (aumentam o risco)

Condições que aumentam a suscetibilidade do animal à otite externa, mesmo antes do início da inflamação.

  • Conformação da orelha: raças de orelhas longas, caídas ou muito peludas.

  • Umidade excessiva: banhos frequentes, natação.

  • Doenças obstrutivas: pólipos, neoplasias, cistos.

  • Doenças sistêmicas: imunossupressão, estados catabólicos.

Causas primárias (iniciam a otite)

cachorro coçando a orelha com otite canina

As causas primárias provocam uma reação inflamatória no ouvido inicialmente saudável ao alterar a barreira protetora natural da pele do conduto auditivo. 

Isso ocorre porque o acúmulo de cerúmen, a presença de alérgenos ou parasitas irritam o epitélio local, deixando o canal mais úmido e menos ventilado. 

Nessa condição, o ambiente auditivo se torna favorável à multiplicação de bactérias e fungos, o que frequentemente abre caminho para infecções secundárias.

Entre as principais causas primárias da otite externa em cães estão:

  • Alergias: alimentares, dermatite atópica ou de contato.

  • Parasitas: principalmente o ácaro Otodectes cynotis.

  • Doenças autoimunes ou imunomediadas: como pênfigo foliáceo.

  • Endócrinas: hipotireoidismo e hiperadrenocorticismo.

  • Distúrbios de pele: adenite sebácea, dermatite responsiva ao zinco.

  • Corpos estranhos: sementes, poeira, fragmentos vegetais.

  • Infecções virais ou fúngicas: como cinomose e Aspergillus.

Causas secundárias (agravam um ouvido já doente)

Quando o ouvido já está inflamado por uma causa primária, outras alterações podem se instalar e agravar o quadro. São chamadas de causas secundárias e estão ligadas, principalmente, a infecções e fatores externos que perpetuam a inflamação:

  • Infecções bacterianas: Staphylococcus pseudintermedius, Streptococcus, Pseudomonas.

  • Infecções fúngicas: leveduras como Malassezia pachydermatis.

  • Reações a medicamentos.

  • Limpeza excessiva que irrita o canal auditivo.

Fatores perpetuadores (mantêm a inflamação)

São mudanças que surgem como consequência da otite e dificultam a recuperação, favorecendo a cronicidade do quadro clínico.

  • Alterações epiteliais que reduzem a limpeza natural do canal.

  • Estenose ou edema do conduto auditivo.

  • Ruptura de tímpano.

  • Alterações glandulares (hiperplasia sebácea).

  • Fibrose ou calcificação do canal.

  • Otite média associada.

Quais cães têm mais risco de desenvolver otite externa?

Cães de orelhas longas, peludas ou com conduto auditivo estreito apresentam maior risco de desenvolver otite externa. O formato anatômico dificulta a ventilação do ouvido e favorece a umidade, criando um ambiente ideal para a proliferação de fungos e bactérias.

Entre os principais fatores de risco estão:

CategoriaExemplosPor que aumenta o risco
Raças predispostasCocker Spaniel, Basset Hound: orelhas caídas

Golden Retriever, Labrador: apresentam tendência a alergias

Poodle e Schnauzer: excesso de pelos no canal auditivo externo

Bulldog, Shar Pei – canal estreito

Shih-tzu – orelhas peludas
Retêm calor, cerúmen e umidade
IdadeFilhotes: mais ácaros

Idosos: otites crônicas, doenças endócrinas
Imunidade baixa, inflamações recorrentes
Condições clínicasAlergias

Hipotireoidismo

Hiperadrenocorticismo

Imunossupressão
Alteram barreira natural e favorecem infecção
Ambiente e manejoBanhos sem secagem

Clima quente e úmido

Natação

Produtos inadequados
Umidade e irritação do canal auditivo


Quais complicações a otite canina externa pode causar?

Se o tutor adia a consulta e o tratamento, a inflamação pode evoluir e causar problemas graves. Ou seja, pode se tornar crônica, levando ao estreitamento permanente do canal auditivo, formação de fibrose e até ruptura da membrana timpânica. 

Nos casos avançados, a infecção pode atingir o ouvido médio ou interno, comprometendo o equilíbrio do animal e provocando perda auditiva parcial ou total. 

Por isso, o acompanhamento veterinário imediato é essencial para evitar sequelas irreversíveis e garantir a recuperação completa do cão.

Como é feito o diagnóstico da otite canina externa?

O diagnóstico não se baseia apenas nos sintomas visíveis, como coceira ou secreção. Para confirmar a doença e identificar a causa correta, o veterinário utiliza diferentes métodos que vão da consulta clínica a exames complementares.

Os principais métodos de diagnóstico incluem:

  • Anamnese: coleta de informações com o tutor sobre início dos sinais, evolução do quadro, ambiente e possíveis alergias.

  • Exame físico e avaliação otológica: inspeção do pavilhão auricular e testes de sensibilidade à dor.

  • Otoscopia: visualização do canal auditivo para verificar corpos estranhos, pólipos, excesso de cerúmen ou alterações no tímpano.

  • Citologia auricular: análise da secreção do ouvido para identificar microrganismos (bactérias, fungos ou leveduras).

  • Cultura e antibiograma: indicados em casos crônicos ou resistentes, para definir o antibiótico mais eficaz.

  • Exames de imagem: radiografia, tomografia ou ressonância são usados quando há suspeita de otite média ou interna.

Esse processo é essencial para diferenciar a otite de outras doenças e garantir que o tratamento seja direcionado à causa real da inflamação. Por isso, apenas o médico-veterinário pode indicar o diagnóstico correto e seguro.

Qual é o tratamento para a otite canina externa?

Veterinária examinando possível otite externa em cachorro com um otoscópio na clínica veterinária.

A otite canina externa tem cura, mas o tratamento só é eficaz quando direcionado à causa do problema. O plano terapêutico geralmente envolve limpeza do ouvido, medicamentos tópicos e, em casos mais graves, uso de antibióticos, antifúngicos ou até cirurgia.

Após o diagnóstico, o médico-veterinário define a abordagem mais adequada. De forma geral, o tratamento inclui etapas complementares que atuam juntas para controlar a inflamação, eliminar agentes infecciosos e prevenir novas crises.

Então, em casos de otite canina externa, dependendo da causa, o veterinário pode orientar os seguintes tratamentos:

  • Controle da dor e da inflamação: anti-inflamatórios e corticoides ajudam a reduzir o inchaço e a coceira, facilitando a limpeza e a aplicação de medicamentos.

  • Higienização do ouvido: remoção do excesso de cerúmen e secreção com soluções otológicas prescritas. Em quadros graves, a limpeza pode ser feita na clínica, sob sedação.

  • Medicamentos tópicos: soluções ou pomadas com ação antibacteriana, antifúngica, anti-inflamatória ou antiparasitária, de acordo com o agente causador.

  • Tratamento sistêmico: antibióticos, antifúngicos ou antiparasitários por via oral ou injetável em casos graves, crônicos ou com otite média associada.

  • Controle das causas subjacentes: manejo de alergias alimentares ou ambientais, tratamento de doenças endócrinas e remoção de corpos estranhos.

  • Cirurgia: indicada apenas em casos crônicos e resistentes, quando há estenose do canal auditivo ou lesões irreversíveis.

O sucesso do tratamento depende do acompanhamento correto e da disciplina do tutor em seguir as orientações do veterinário. 

É importante evitar a automedicação, já que o uso inadequado de antibióticos, antifúngicos ou corticoides pode agravar a inflamação e favorecer a resistência dos microrganismos.

Como também, nunca deve ser feita com a introdução de hastes flexíveis (cotonetes) ou outros objetos, pois isso pode piorar o quadro.

Como prevenir a otite canina externa?

Tutores, o melhor tratamento para a otite crônica é a prevenção. A rotina de cuidados com os ouvidos do cão é fundamental, principalmente em raças predispostas ou em animais que já tiveram episódios anteriores da doença.

As principais medidas preventivas incluem:

  • Limpeza regular e correta: higienizar as orelhas apenas com soluções otológicas prescritas pelo veterinário.

  • Proteção contra umidade: evitar a entrada de água no ouvido durante o banho e secar bem a região após contato com água.

  • Manutenção da dieta prescrita: em casos de alergias alimentares, respeitar a orientação nutricional é essencial.

  • Controle de parasitas: usar antiparasitários regularmente para prevenir ácaros de ouvido e outros ectoparasitas.

  • Acompanhamento periódico: realizar check-ups veterinários, especialmente em cães com histórico de otite crônica.

  • Cuidados em pet shops: escolher estabelecimentos que adotem práticas seguras de banho e tosa, respeitando a anatomia auricular.

  • Não remover pelos do ouvido sem indicação: a depilação auricular só deve ser feita quando recomendada pelo veterinário.

Além disso, o tutor deve observar regularmente as orelhas do cão e procurar o veterinário diante de qualquer alteração, como secreção, mau cheiro ou coceira excessiva. 

Mas, lembre-se: a prevenção reduz o risco de complicações, mas não substitui a avaliação clínica.

Perguntas frequentes sobre a otite canina externa

otite externa em cães

Como limpar a orelha do cachorro?

A limpeza deve ser feita apenas com soluções otológicas veterinárias prescritas pelo médico-veterinário. Produtos como Auritop Gel Otológico e EasOtic Suspensão Otológica podem ser indicados, mas nunca devem ser usados sem orientação profissional.

Nunca use cotonetes: eles podem machucar o canal auditivo e empurrar a secreção ainda mais para dentro. Quer mais detalhes? Veja o guia completo sobre como limpar o ouvido do cachorro.

A alimentação pode causar ou piorar a otite em cães?

Sim, alergias alimentares estão entre as principais causas de otite crônica ou recorrente. Estudos mostram que até 80% dos cães com alergia alimentar também apresentam inflamações no ouvido (FONTOURA et al., 2014).

Uma nutrição equilibrada fortalece a barreira cutânea e o sistema imunológico, reduzindo a predisposição a inflamações. Dietas com proteínas de alta qualidade, vitaminas, minerais e ácidos graxos ômega-3 auxiliam na recuperação e prevenção da doença.

Os tutores devem oferecer sempre rações de qualidade e consultar o médico-veterinário para definir a melhor dieta de acordo com a raça, idade e necessidades individuais do animal.

Cães idosos têm mais predisposição à otite?

Sim, o envelhecimento favorece infecções crônicas devido a queda da imunidade, doenças endócrinas (como hipotireoidismo) e alterações no epitélio auricular.

O que pode ser confundido com otite externa?

Diversas doenças apresentam sintomas semelhantes à otite, como coceira, secreção e inclinação da cabeça. Entre elas:

Doenças dermatológicas

  • Dermatite alérgica (alimentar ou ambiental).
  • Dermatofitose (micose).
  • Sarna sarcóptica ou demodécica.

Doenças neurológicas e de equilíbrio

  • Síndrome vestibular.
  • Lesões neurológicas que alteram postura e comportamento.

Outras condições do ouvido

  • Corpos estranhos (sementes, fragmentos vegetais, poeira).
  • Neoplasias e pólipos no canal auditivo.
  • Traumas auriculares (arranhões, mordidas, acidentes).

Apenas o exame clínico e exames complementares (como otoscopia e citologia) podem diferenciar a otite de outras doenças.

Como saber se a otite canina é externa ou interna?

A diferenciação só pode ser feita por meio de exame clínico e, em alguns casos, exames complementares (otoscopia, citologia, exames de imagem). 

Onde comprar soluções otológicas e itens de higiene auricular para cães?

Na Cobasi você encontra uma linha completa de remédio para otite canina, soluções otológicas e itens de higiene para cães, disponíveis no site, app ou lojas físicas.

Esses produtos devem ser adquiridos apenas em lojas e farmácias veterinárias e utilizados sempre com a indicação do médico-veterinário, garantindo o tratamento correto e seguro.

A otite canina externa é uma das doenças mais comuns na rotina veterinária, afetando 1 em cada 5 cães ao longo da vida. Quanto mais cedo for identificada e tratada, maiores as chances de evitar complicações graves e preservar a qualidade de vida do pet. 

Quer saber mais sobre a otite em cães? Confira mais informações com o veterinário Marcelo Tacconi:

Compartilhe esse conteúdo com outros tutores. A informação correta pode fazer a diferença no cuidado diário e até salvar a audição de muitos cães.

No Blog da Cobasi, você encontra mais conteúdos sobre saúde, bem-estar e cuidados essenciais para garantir uma vida longa e feliz ao seu pet. Até a próxima!

Por Cobasi

A Cobasi vai além de uma pet shop online: aqui, no Blog da Cobasi, ensinamos você todos os cuidados com pets, casa e jardim.

Ver publicações

Você pode gostar de ver também…

Deixe o seu comentário