
A miíase em cachorro, popularmente conhecida como bicheira ou berne, é uma infestação parasitária causada por larvas de moscas, muito comum em cães, gatos e animais domésticos.
Quadros da doença acontecem em todo mundo, sendo ainda mais frequentes em regiões tropicais, como o Brasil. Afinal, o clima quente e úmido cria um ambiente favorável para a reprodução dos insetos que desencadeiam a condição. (SINGH, 2015).
A miíase canina pode se manifestar em diferentes partes do corpo dos cachorros, incluindo pele, olhos, nariz, boca, ouvidos e genitálias.
O principal sintoma da infestação são feridas com larvas que geram vermelhidão, inchaço, inflamação e muita dor aos pets. Se não for tratada rapidamente, a miíase pode acarretar infecções graves que colocam a vida do animal em risco.
Além disso, a condição é considerada uma zoonose e pode ser transmitida para humanos, o que reforça a importância de identificar e tratar a infestação o mais rápido possível.
Neste guia completo, descubra o que é, quais são as causas, sintomas, tratamento e formas de prevenir a miíase em cachorro. Boa leitura!
A miíase é causada pela infestação de larvas de moscas que se desenvolvem no corpo dos cães.
Segundo Ragi et al. (2021), a espécie Dermatobia hominis (mosca-berneira) é o principal agente da doença na América. Esse díptero é responsável por um tipo bem conhecido de miíase: a berne.
Seu ciclo de vida é complexo e dura cerca de 100 – 141 dias. Após a fecundação, as fêmeas inserem seus ovos em outros insetos, como moscas comuns.
Ao entrar em contato com a pele dos cães, esses ovos eclodem e as larvas já desenvolvidas penetram o animal, alimentando-se de seus tecidos.
Outra espécie causadora de miíase em cachorro é a Cochliomyia hominivorax, popularmente conhecida como mosca varejeira (CRAMER-RIBEIRO et al., 2002).
A Cochliomyia hominivorax é responsável por outro tipo famoso de miíase: a bicheira. Seu ciclo de vida é mais curto (24 – 50 dias) e a fêmea deposita os ovos diretamente na pele e mucosas dos cachorros.
Condições sanitárias precárias, feridas abertas, má higiene e acidentes por mordidas são fatores que favorecem a miíase, por promoverem a proliferação das moscas.
No entanto, só o contato direto com os insetos desencadeia a infestação.
A miíase em cães pode causar uma série de sinais clínicos, que variam conforme a quantidade e a localização das larvas.
Em geral, os principais sintomas da infestação por larvas de mosca são:
Os ferimentos são um dos primeiros sinais observados por tutores. Essas lesões costumam ter aspecto úmido, avermelhado e podem conter secreção.
Em casos mais avançados, é possível observar as larvas se movendo dentro da ferida ou saindo da pele do animal.
O animal com berne ou bicheira costuma apresentar pontos vermelhos com pequenos buracos por onde as larvas se projetam.
A área afetada geralmente apresenta inchaço, vermelhidão e pus, especialmente em quadros com infecção associada.
A movimentação das larvas pelo corpo do animal causa desconforto. Isso pode fazer o pet coçar, lamber ou morder a região, aumentando as lesões.
Cães podem apresentar espirros, secreção nasal e respiração com ruídos (estertorosa) quando as larvas invadem cavidades nasais ou seios da face.
Se a miíase atingir o olho do cachorro, pode prejudicar a visão e causar inflamação ocular, secreção, edema da córnea, distorção do globo ocular e até perda da visão.
Em casos graves, a bicheira pode afetar o sistema nervoso dos cães, desencadeando convulsões e paralisia.
A identificação rápida desses sinais é essencial para o sucesso do tratamento e evita danos permanentes à saúde do cão.
Por isso, se você notar qualquer um dos sintomas listados, procure atendimento veterinário imediatamente!
Principalmente em seus estágios iniciais, quando é difícil identificar a presença de larvas, a miíase em cachorro pode ser confundida com outras doenças que causam lesão aberta.
A seguir, descubra 4 doenças parecidas com berne e bicheira e como diferenciá-las.
Inflamações na pele causam sintomas parecidos aos da bicheira, incluindo ferimentos na pele, coceira e vermelhidão. São as famosas dermatites!
Por evoluir rapidamente para infecções bacterianas, elas também podem apresentar odor desagradável, confundindo o diagnóstico da miíase.
Neste caso, os tutores devem diferenciar as condições através da evolução dos quadros. Feridas que não cicatrizam, com pequenos orifícios e movimento interno são sinais clássicos de miíase.
Um abscesso é um acúmulo localizado de pus que causa inchaço, vermelhidão, secreção e odor pútrido. Ele pode ser causado por traumas, mordidas ou picadas de inseto.
Com sintomas tão parecidos aos da miíase em cachorro, só é possível diferenciar as condições através da visualização de larvas nas feridas.
Quando isso não for possível, a avaliação médica será essencial para o diagnóstico correto da doença.
Tumores benignos ou malignos na pele dos cães — como carcinomas — podem apresentar sintomas semelhantes à miíase, como lesões que não cicatrizam.
Geralmente, essas feridas não apresentam odor pútrido, são solitárias e firmes. A melhor forma de distinguir as condições é identificar a presença de larvas. Uma biópsia também pode ser útil para descartar a suspeita.
Inflamações no canal auditivo externo do cachorro, geralmente causados por bactérias (Streptococcus sp.), fungos (Malassezia pachydermatis) ou ácaros (Otodectes cynotis) causam sintomas parecidos aos da miíase no ouvido, como:
Para diferenciar as condições, é preciso identificar a presença ou ausência de larvas. Isso é mais fácil com a ajuda de um veterinário, já que o exame da orelha pode gerar incômodo e dor no animal.
Alguns cachorros estão mais vulneráveis à miíase por conta de características físicas, comportamentais ou condições de vida que favorecem a presença de larvas em cães.
Ferimentos abertos e sem tratamento adequado são verdadeiras portas de entrada para a infestação, principalmente para as moscas Cochliomyia hominivorax.
Os dípteros são atraídos pelos odores dessas lesões, facilitando o pouso e depósito dos ovos, aumentando os riscos de contágio. (SOUZA; VEROCAI; RAMADINHA, 2010).
Segundo Anderson et al. (2019), cães que vivem em quintais sujos e com higiene precária possuem maiores chances de infestação. Isso porque o acúmulo de lixo, fezes, urina e dejetos no pelo atraem as moscas.
Cães machos não castrados também estão mais propensos a brigas por disputa de território ou por fêmeas no cio, o que frequentemente resulta em ferimentos por mordidas.
Essas lesões são altamente contaminadas e favorecem a instalação de larvas, principalmente de Cochliomyia hominivorax (DEL CIAMPO et al., 2000).
Outros fatores que aumentam os riscos de miíase em cachorro são:
Os quadros de miíase progridem de maneira rápida, seguindo o ritmo de proliferação, localização e desenvolvimento das larvas no corpo do animal.
Quando as larvas atingem seu estágio máximo de crescimento —- geralmente no terceiro dia da infestação, no caso da Cochliomyia hominivorax—- passam a expelir enzimas que destroem os tecidos saudáveis dos cães. (RIBEIRO et al., 2011).
Isso pode gerar complicações graves, como:
Em casos extremos e sem o tratamento adequado, a miíase coloca a vida do cachorro em risco, podendo levar o pet a óbito.
A miíase em cães é classificada de acordo com dois critérios principais: o local da infestação e o tipo de relação entre hospedeiro e parasita.
A seguir, mostramos como isso funciona na prática!
Segundo Francesconi et al. (2012), a classificação anatômica considera a localização da miíase nos cachorros. Ela divide a condição em três tipos principais:
Infestação localizada na pele dos pets. Quando não tratada, pode evoluir para quadros mais graves, como a miíase cavitária.
Afeta órgãos ou cavidades naturais do corpo. Pode ser sub categorizada conforme a estrutura física afetada.
Quando a infestação acomete o ouvido do animal, por exemplo, é chamada de miíase auricular. Já a bicheira no olho do cachorro é classificada como oftalmomiíase.
A miíase cavitária causa lesões mais graves, sendo a principal causa de complicações nos quadros de bicheira. (THYSSEN et al., 2012.)
Ocorre quando as larvas penetram na pele íntegra, sem ferimentos abertos, formando nódulos inflamados e dolorosos. É o caso da berne, causada pela mosca Dermatobia hominis.
A classificação ecológica leva em consideração a relação de parasitismo entre larva e cachorro:
Além disso, as miíases são consideradas primárias quando surgem por conta de ferimentos e aberturas no corpo. Em caso de reinfestação, são chamadas de secundárias.
O diagnóstico da miíase canina é feito através da observação dos sinais clínicos típicos da infestação.
Isso inclui a presença de odor fétido e secreção sanguinolenta ao redor da lesão (exsudato sero-hemorrágico), bem como a identificação das larvas no cachorro.
Médicos-veterinários possuem a experiência necessária para distinguir esses sintomas de outras condições, como abscessos e dermatites. Por isso, sempre leve o pet para uma avaliação clínica especializada.
O tratamento da miíase em cachorro deve ser feito sob orientação veterinária, já que a gravidade da infestação pode impactar nas particularidades dos cuidados indicados.
O protocolo básico inclui:
É o procedimento principal, feito com pinças esterilizadas. A ação pode causar muita dor ao animal, por isso, a sedação é indicada para evitar o sofrimento do cachorro. (MACHADO; RODRIGUES, 2002).
Além da remoção, o tratamento deve incluir o uso de anti-inflamatórios e antibióticos administrados por via tópica e/ou sistêmica.
Isso previne infecções secundárias, ajuda a controlar a infestação e reduz a inflamação da região. (CORREIA et al., 2010).
Os principais medicamentos utilizados no tratamento da miíase são:
Os inseticidas da classe dos organofosforados são muito populares no controle da mosca varejeira. Entretanto, podem gerar efeitos tóxicos nos cachorros, criar parasitas resistentes e contaminar o ambiente.
A ivermectina é um medicamento muito eficaz contra endoparasitas. No entanto, leva até 48h para controlar a infestação, o que pode comprometer a recuperação do pet em estágios avançados.
Derivada das avermectinas, a doramectina atua tanto no combate à infestação quanto na prevenção da miíase em cachorros.
O nitempiram é um medicamento oral com ação rápida que estimula a saída espontânea das larvas, reduzindo a dor e a necessidade de manipulação dos cães. (HAN et al., 2018b).
Pode ser usado em dose única (1 mg/kg) ou em dois dias consecutivos, dependendo do grau de infestação dos parasitas.
Em casos de infestações muito graves, veterinários podem indicar a remoção cirúrgica dos tecidos mortos afetados.
Esse procedimento é conhecido como debridagem e acelera a cicatrização do ferimento, diminuindo a carga bacteriana da lesão.
Você já deve ter ouvido falar de algumas receitas caseiras que supostamente ajudam a acabar com a bicheira em cachorro, não é?
É importante lembrar que a maioria dos remédios caseiros não têm comprovação científica e podem agravar os quadros de miíase.
Além da manipulação causar ainda mais dor aos animais, as substâncias podem atrapalhar a visualização das larvas e confundir o diagnóstico da condição.
Por isso, prefira sempre consultar um profissional para o tratamento assertivo da infestação e nunca automedique o seu pet.
A única forma de confirmar a ausência das larvas nas feridas do cachorro é o monitoramento contínuo do pet.
Se você notar novos ferimentos no corpo do animal ou movimentação nas lesões pré-existentes, procure um veterinário.
Talvez o método de tratamento indicado não tenha sido suficiente para o controle da infestação ou o cachorro tenha sido infectado novamente por moscas.
Independentemente do motivo, a reinfecção precisa ser controlada o mais rápido possível antes que o quadro se agrave.
Geralmente, a presença de larvas vivas na pele e órgãos do animal impede a cicatrização dos ferimentos por miíase.
Entretanto, se a remoção mecânica não estiver associada ao tratamento medicamentoso da infestação, algumas larvas mortas podem permanecer na região afetada pela bicheira.
Neste caso, a presença de um corpo estranho costuma gerar infecções bacterianas e a formação de abscessos.
Por isso, os tutores devem ficar atentos aos sinais de feridas infeccionadas em cachorro — como a presença de pus, febre e odor fétido — e retornar ao veterinário para uma nova inspeção da área.
Segundo Lupi (2012), a miíase em cachorro pode ser prevenida com cuidados básicos de higiene e o controle de moscas no ambiente onde o pet vive.
Épocas de clima quente e regiões sem saneamento adequado precisam de atenção especial, já que favorecem a proliferação de insetos.
Algumas estratégias e dicas práticas que mantêm o seu cachorro protegido contra a miíase são:
Banhos e tosas frequentes evitam o acúmulo de fezes, urinas e secreções que podem atrair moscas, dificultando o pouso da varejeira na pele.
Além disso, locais limpos, sem o acúmulo de lixo e dejetos, são menos atrativos para os insetos, afastando os vetores da miíase.
Feridas expostas atraem moscas, por isso, a proteção é fundamental!
Fique sempre atento a ferimentos na pele do seu cachorro e trate com soluções antissépticas e curativos adequados.
Além disso, condições de saúde não-tratadas, como dermatites e otites podem gerar lesões que predispõem a infestação parasitária.
Em regiões com alta densidade de moscas, mantenha o seu pet em locais fechados e protegidos.
Animais com acesso à rua ou que vivem em ambientes abertos, como quintais, ficam mais expostos aos insetos.
Alguns repelentes eletrônicos e tópicos seguros para pets ajudam a afastar moscas, impedindo os casos de infestação.
Cães em ambientes de risco, com pouco saneamento e muitas moscas, podem se beneficiar com o uso de medicamentos preventivos.
Segundo Cramer-Ribeiro et al. (2002), a administração mensal de lufenuron na dose de 10 mg/kg ajuda a prevenir bernes e bicheiras em cães.
No entanto, é preciso investigar possíveis contraindicações específicas para certos pets e conversar com um veterinário antes de iniciar o uso.
A miíase é uma infestação parasitária relativamente comum, mas que causa muito sofrimento e dor aos cães.
Agora que você já sabe como identificar, tratar e prevenir bernes e bicheiras em cachorros, chegou a hora de colocar esses conhecimentos em prática.
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Revista Brasileira de Pesquisa Veterinária | Inquérito sobre casos de miíase por Cochliomyia hominivorax em cães (Canis familiaris) das zonas Norte e Oeste do município do Rio de Janeiro em 2000
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