
A platinosomose felina é uma infecção parasitária causada pelo verme trematódeo Platynosomum fastosum que afeta o fígado, a vesícula e os ductos biliares dos gatos.
A principal forma de contágio da doença é a ingestão de outros animais infectados, como rãs, sapos e lagartos. Por isso, ela é popularmente conhecida como doença da lagartixa.
Em seus estágios iniciais, a infecção não apresenta sinais clínicos aparentes. Entretanto, o quadro pode evoluir rapidamente, comprometendo a função hepática dos gatos e colocando a vida dos animais em risco.
No Brasil, a platinosomose felina já foi encontrada em diversas regiões, com prevalência de 75% no estado do Rio de Janeiro, 42% no Ceará e 40% em Minas Gerais. (ANTUNES, 2021).
Neste guia completo, descubra como a doença da lagartixa funciona, como diagnosticar, tratar e prevenir a condição. Acompanhe!
A platinosomose é uma infecção parasitária que atinge principalmente o fígado, a vesícula e os ductos biliares dos gatos.
A doença é causada por vermes que entram em contato com o organismo dos felinos através da ingestão de hospedeiros intermediários, como anfíbios e pequenos répteis. Por isso, ela também é chamada de doença da lagartixa.
Segundo Salomão et al. (2005), a gravidade da infecção varia de acordo com tempo de parasitismo, número de vermes e a resposta imunológica do felino. No início, muitos pets podem ser assintomáticos e não manifestar sinais clínicos da infestação.
Em casos mais graves, os parasitas causam lesões e necrose no fígado, além de obstruir a passagem da bile. Isso aumenta as chances de infecções, inflamações e o desenvolvimento de tumores na região, como colangiocarcinomas (LIPTAK et al., 2004).
O agente causador da platinosomose em gatos são os vermes do gênero Platinossomum spp., principalmente os da espécie Platynosomum fastosum, popularmente chamado de verme do fígado.
Este parasita pertence à classe Trematoda, da família Dicrocoeliidae e filo Platyhelminthes. É chamado de trematódeo e possui o corpo achatado, atingindo cerca 2,8 – 6,8 mm de comprimento em sua fase adulta. (FERREIRA; ALMEIDA, 2003).
A transmissão da platinosomose em felinos acontece através da ingestão de animais infectados pelo verme, como as lagartixas.
Por isso muitas pessoas acreditam que elas são as únicas responsáveis pela doença, o que não é verdade. Na verdade, outros animais, como rãs, sapos e aves estão envolvidos na cadeia de contágio.
Afinal, para chegar até os felinos — seus hospedeiros definitivos, onde o verme se desenvolve e se reproduz — o trematódeo precisa parasitar três hospedeiros intermediários.
Isso acontece por conta do ciclo de vida do Platynosomum fastosum, que segue 5 etapas principais:
Tudo começa quando um gato infectado elimina ovos do parasita nas fezes, contaminando o ambiente.
Em seguida, caramujos terrestres ou aquáticos ingerem as fezes contaminadas com os ovos de Platynosomum fastosum. Dentro dele, os miracídios (forma larval) eclodem e se transformam em cercárias, larvas de cauda longa parecidas com girinos.
Cercárias maduras são liberadas no ambiente e ingeridas por isópodos terrestres, como tatuzinhos de jardim, besouros e percevejos. Nesses animais, elas se transformam em metacercárias.
Depois, pequenos vertebrados como lagartixas, sapos, rãs e até pássaros insetívoros comem os isópodos e as metacercárias ficam alojadas (encistadas) em seus canais biliares.
Em cerca de 4 a 5 semanas, os parasitas atingem a maturidade, produzem novos ovos e o ciclo recomeça. (MALDONADO, 1945).
Grande parte dos gatos são assintomáticos e não apresentam sintomas evidentes de platinosomose, principalmente no início da infecção.
Segundo Ferreira e Almeida (2003), quando a carga parasitária é pequena, com menos de 125 parasitas adultos, raramente é possível notar sinais clínicos nos felinos.
Conforme a doença avança, é possível identificar alguns sintomas da doença da lagartixa em gatos, como:
Esses sinais apontam para sérios problemas no fígado de gatos e devem ser investigados rapidamente.
Sim. Além dos gatos, o parasita Platynosomum fastosum também pode infectar outros animais domésticos e silvestres, incluindo aves e mamíferos (Maldonado, 1945).
Entre as espécies silvestres que já foram diagnosticadas com a doença, destacamos:
Alguns primatas, como o orangotango (Pongo pygmaeus) e o sagui (Callithrix sp.) também podem ser infectados. No entanto, os estudos sobre os riscos de infecção em humanos são escassos. (ZEN et al., 2005).
Identificar a platinosomose felina é um grande desafio para os tutores. Afinal, os poucos sintomas clínicos da condição não são exclusivos da doença, o que pode confundir o diagnóstico.
Abaixo, descubra três doenças com sintomatologia parecida e como diferenciá-las da doença da lagartixa:
Condição de saúde | O que é | Sinais clínicos semelhantes | Como diferenciar? |
Lipidose felina (fígado gorduroso) | Doença hepática em gatos, causada pelo excesso de triglicerídeos que compromete a função do fígado. | icterícia;letargia;anorexia; vômito;perda de peso. | A história clínica do animal (como mudanças alimentares ou obesidade), associada à ultrassonografia e à biópsia hepática ajuda a diagnosticar a lipidose hepática. |
Micoplasmose felina (anemia infecciosa felina) | Infecção causada por bactérias que parasitam os glóbulos vermelhos, causando a destruição das células sanguíneas | icterícia;anorexia;letargia;perda de peso;desidratação. | Gatos com micoplasmose apresentam sinais de infecção bacteriana, como febre. Exames de sangue e testes de biologia molecular (PCR) auxiliam a diferenciar as condições. |
Pancreatite felina | Inflamação do pâncreas causada por traumas, intoxicação, infecções, etc. | icterícia;vômito;diarreia;letargia;anorexia;perda de peso. | O diagnóstico da pancreatite se apoia principalmente em exames laboratoriais, como a mensuração da lipase pancreática felina (PLI), além da ultrassonografia. |
A platinosomose afeta gatos de todas as idades, independentemente do sexo ou localização geográfica. Afinal, basta a ingestão de um animal infectado para a condição se manifestar.
No entanto, estudos indicam que gatos com acesso à rua, fêmeas com filhotes e felinos adultos possuem mais chances de contrair a doença. Entenda os motivos:
Segundo Salomão et al. (2005), o principal fator de risco para o contágio de platinosomose felina é o estilo de vida do gato.
Isso porque animais com livre acesso à rua têm mais chance de entrar em contato com os hospedeiros infectados.
De acordo com o autor, gatos de vida livre (de rua) possuem cerca de 42% de chance de infecção. Felinos que saem de casa ocasionalmente, cerca de 28%. Já os gatos sem acesso à rua têm apenas 7% de risco.
Gatas fêmeas com filhotes também correm mais risco de desenvolver a infecção. Afinal, o instinto de caçar para alimentar a prole aumenta o contato com presas infectadas, como lagartixas, rãs e pequenos insetos.
A idade também influencia o risco de contágio. Segundo Rodriguez-vivas et al. (2004), gatos com mais de dois anos apresentam até 95% de chance de desenvolverem platinosomose.
Embora muitas vezes passe despercebida, a platinosomose felina pode evoluir para quadros clínicos graves rapidamente, podendo levar os pets a óbito.
Complicações como ruptura da vesícula biliar ou cirrose hepática crônica geram infecção generalizada e comprometem as funções do fígado de forma irreversível.
Além disso, a presença contínua de parasitas nos ductos biliares aumenta as chances de inflamações, como a colangite e a colangio-hepatite.
Esses processos inflamatórios prejudicam o funcionamento do organismo do animal e contribuem para o desenvolvimento de abscessos hepáticos e colangiocarcinoma, um tipo de câncer.
Por isso, é importante levar o gato ao veterinário assim que os primeiros sintomas da infestação parasitária aparecerem.
Os quadros de platinosomose em gato evoluem de maneira gradual, conforme o número de parasitas, o tempo de infecção e a resposta do organismo do gato.
No estágio inicial, as larvas migram rumo ao fígado do animal, lesionando a região e causando necrose durante o movimento.
Depois, os parasitas se instalam no fígado, vesícula e ductos biliares. Lá, podem obstruir o canal biliar ou gerar o crescimento anormal das células (hiperplasia) e o endurecimento dos tecidos (fibrose).
Quando essa condição se prolonga, surgem danos progressivos ao fígado, como inflamação crônica e comprometimento total da função hepática.
Em primeiro lugar, mantenha a calma. Apesar da lagartixa ser uma possível hospedeira do Platynosomum fastosum, nem sempre ela estará infectada pelo verme.
Descarte o corpo do animal com cuidado para impedir que o gato continue a predá-lo e preste atenção aos sinais que o felino apresentar nos próximos dias.
Se você notar a presença de vômitos, diarreia, perda de peso e icterícia, leve o pet ao veterinário imediatamente.
Com o diagnóstico rápido, o tratamento da doença é menos invasivo e tem maiores chances de sucesso.
O diagnóstico da platinosomose felina só pode ser feito por um médico-veterinário, através do histórico clínico do pet e exames que detectam a presença do Platynosomum fastosum.
Algumas etapas e métodos utilizados para diagnosticar a condição incluem:
O primeiro passo é uma conversa detalhada com o tutor. Esse momento ajuda a levantar a hipótese da doença, principalmente em gatos que têm acesso à rua e hábitos de caça aguçados.
Por isso, o profissional poderá fazer perguntas como:
Uma vez que o veterinário suspeita da infecção, é hora de realizar os exames que comprovam a infecção.
O exame coproparasitológico é o exame padrão para o diagnóstico da platinosomose, por permitir identificar a presença de ovos do parasita.
Mas atenção: se o ducto biliar estiver totalmente obstruído, os ovos não vão chegar às fezes e o exame pode dar um falso negativo.
Parasitas imaturos e pouca quantidade de ovas também dificultam o diagnóstico. Por isso, é preciso adaptar o método de análise do material.
Segundo Ribeiro (2004), a técnica de sedimentação formalina-éter é a mais indicada. Ela usa a gravidade para separar os ovos de detritos fecais, facilitando sua visualização.
A ultrassonografia ajuda a visualizar alterações no fígado e nos ductos biliares, como:
Embora esses achados não sejam exclusivos da doença da lagartixa, eles reforçam a suspeita clínica.
Exames hematológicos e bioquímicos não confirmam a doença, mas mostram alterações sugestivas após três semanas de infecção, como:
Felizmente, a doença da lagartixa em gatos tem cura!
O tratamento para platinosomose felina varia conforme o grau de gravidade da doença. Em geral, quanto mais cedo ela for diagnosticada, melhor será a resposta ao tratamento medicamentoso.
O principal remédio utilizado é o praziquantel, o anti-helmíntico mais eficaz contra o Platynosomum spp. (FERRAZ et al., 2021).
Especialistas indicam a administração oral de uma dose de 25 mg/kg a cada oito horas, durante três dias. O protocolo deve ser repetido 12 semanas após a última aplicação.
O uso de antimicrobianos como amoxicilina e metronidazol também é recomendado para combater e prevenir infecções secundárias. Neste caso, o tratamento pode durar de 4 a 6 semanas. (NORSWORTHY, 2009).
Durante o tratamento, é possível que o pet apresente desidratação ou problemas para se alimentar. Então a reposição de minerais e a alimentação assistida com sondas podem ser indicadas.
A intervenção cirúrgica é feita apenas em quadros graves, quando há obstrução ou extravasamento da bile. É considerado um procedimento de emergência.
A boa notícia é que com pequenas atitudes no dia a dia você pode manter o seu gato protegido contra a platinosomose felina!
Algumas dicas essenciais para evitar o contágio são:
Uma das formas mais eficazes de prevenir a infecção é restringir o acesso do gato à rua e oferecer alternativas seguras dentro de casa.
Brinquedos que simulam presas, como varinhas com penas, bolinhas e dispositivos interativos, ajudam a satisfazer o instinto de caça do felino.
Isso diminui o interesse do pet por animais potencialmente infectados, como lagartixas, sapos e rãs.
Mesmo os gatos sem acesso à rua podem desenvolver a platinosomose se entrarem em contato com hospedeiros intermediários.
Por isso é essencial que os tutores impeçam a proliferação destes animais em casa. Você pode afastar lagartixas, sapos e pererecas com algumas ações simples, como:
A vermifugação periódica é essencial para o controle de infecções parasitária em gatos. Para os felinos, esse protocolo deve começar aos 15 – 30 dias de idade e seguir pelo resto da vida do animal.
A administração preventiva de praziquantel, a cada três meses, também é uma estratégia recomendada para o controle do Platynosomum spp. e outros vermes hepáticos em gatos. (NORSWORTHY, 2009). No entanto, ela sempre deve seguir as orientações de um médico-veterinário.
Prevenir e diagnosticar a platinosomose é mais fácil com orientação profissional. Consultas periódicas ajudam a manter o calendário de vermifugação em dia, além de possibilitar a detecção precoce de qualquer alteração de saúde nos gatos.
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Referências técnicas:
ANTUNES, E. Trabalho de conclusão do curso: Platinosomose Felina. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2021.
SALOMÃO, M.; Dantas, L.M.S.; Almeida, F.M.; Branco, A.S.; Bastos, O.P.M.; Sterman, F.; Labarthe, N. Ultrasonography in hepatobiliary evaluation of domestic cats (Felis catus, L.1758) infected by Platynosomum Loss, 1907. The International Journal of Applied Research in Veterinary Medicine, 3(3): 271-279, 2005.
LIPTAK, J.M.; DERNELL, W.S.; WITHROW, S.J.; Liver tumors in cats and dogs.
Compend Contin Educ Pract Vet. 26:50-56, 2004.
FERREIRA, A.M.R., ALMEIDA, E.C.P., Platinosomose. In: Souza, H.J.M., Coletâneas em
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MALDONADO, J.F. The life history and biology of Platynosomum fastosum KOSSACK, 1910 (Trematoda: Dicrocoeliidae). Public Health Tropical Medicine, v.21, p.17-39, 1945.
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Labovet Produtos Veterinários | Platinosomíase: abordagem na clínica de felinos.
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Royal Canin | Portal Vet | Nutrição na pancreatite felina
Royal Canin | Portal Vet | Micoplasmose felina
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ScienceDirect | A review of the cat liver fluke Platynosomum fastosum Kossack, 1910 (Trematoda: Dicrocoeliidae)
Revista Veterinária em Zootecnia (RVZ) |Colangite crônica associada à infestação de trematódeo por platynosomum fastosum, concomitante à vesícula biliar dupla em um gato
Editora Pasteur | Platinosomose felina: revisão de literatura
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) | Icterícia em felinos
UOL VivaBem | Lagartixa em casa é perigoso? O que fazer se encontrar esse bicho
| Atualizada em
Formada pela USP, Joyce possui especializações em Medicina Veterinária Preventiva e um MBA em Liderança de Alta Performance. Apaixonada por sua gata, Mia, ela reflete todo o carinho e dedicação que tem por ela em sua prática profissional.
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Achei bastante interessante, crio gatos a muitos anos e desconhecia está doença @
Gostaria de saber, se só o contato do gatinho com a lagartixa, pode adoecer? Tenho um gatinho que gosta de caçar lagartixas, mas, ele não come , só brinca .
Olá! O contato do seu gatinho com a lagartixa pode sim adoecê-lo. A Platinosomose, também conhecida como “doença da lagartixa”, é uma parasitose comum em felinos, resultante do hábito natural de caça.