Creatinina alta em cães: o que significa e como cuidar do seu pet

Por Redator Cobasi

Com colaboração: Lysandra Barbieri
Tempo de leitura: 14 minutos

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Creatinina alta em cães

A creatinina alta em cães é um dos principais sinais de alerta para problemas renais com o pet, desde uma desidratação até casos mais graves de insuficiência renal. O parâmetro é amplamente utilizado na prática veterinária porque reflete diretamente a capacidade de filtração dos rins. 

Quando a creatinina ultrapassa o valor de referência, há risco de acúmulo de toxinas no organismo e de complicações sérias. Esse marcador bioquímico, junto com a dosagem de ureia, é considerado um dos indicadores mais confiáveis da função dos rins. 

 Pesquisas em hospitais veterinários, como a da Universidade Federal de Uberlândia (2019), apontam que os valores normais desses marcadores variam entre:

  • 0,5 e 1,5 mg/dL para creatinina;
  • 15 a 40 mg/dL para ureia.

Alterações nesses níveis devem ser levadas a sério, já que a combinação de creatinina e ureia altas costuma indicar lesão renal, reforçando a importância dos exames periódicos.

Seu cachorro recebeu o diagnóstico de creatinina alta e você não sabe o que isso significa? Neste guia, contamos com a colaboração da médica-veterinária Lysandra Barbieri (CRMV/SP – 44484), para te ajudar a entender os seguintes tópicos:

O que é creatinina em cães?

A creatinina é uma substância produzida naturalmente pelos músculos, filtrada pelos rins e eliminada pelo xixi. Como sua produção é constante, a dosagem no sangue funciona como um “termômetro” da função renal.

De forma simples, a creatinina é um resíduo da creatina, substância que armazena energia no músculo. Quando a creatina é consumida, ela gera creatinina, que vai para o sangue e deve ser filtrada pelos rins.

Quando a sua concentração está alta, pode ser que os rins não estejam conseguindo eliminá-la corretamente, o que é um sinal de alerta para problemas renais em cães.

Como a creatinina é usada na prática veterinária?

Na medicina veterinária, o exame de creatinina é um dos mais comuns para avaliar a função dos rins. 

Estudos organizados por Watson et al. (1981), indicam que os níveis deste marcador não se elevam logo no início dos transtornos renais, mas apenas quando já ocorreu perda significativa da função dos rins.

Apesar de ser considerada um parâmetro tardio, a medição continua indispensável na prática clínica. 

Isso ocorre porque a creatinina é eliminada quase exclusivamente pelos rins, tornando-se um marcador indireto da taxa da taxa de filtração glomerular (TFG), a forma mais precisa de avaliar a capacidade de os rins filtrarem o sangue.

Quais são os valores normais de creatinina em cães e os níveis que exigem atenção?

Os valores normais de creatinina em cães ficam entre 0,5 e 1,5 mg/dL no sangue. Resultados acima desse intervalo já merecem atenção do veterinário, como detalhamos na tabela abaixo:

SituaçãoNíveis (mg/dL)Interpretação
Normal0,5–1,5Função renal preservada
Alerta precoce≥ 1,4Pode indicar início de doença renal crônica se houver outros sinais clínicos
Alteração leve1,6–2,0Necessário investigar: pode ser início de comprometimento
Moderada2,1–5,0Insuficiência renal moderada a grave
Grave> 5,0Quadro crítico, risco de vida, exige atendimento imediato

Vale ressaltar que o contexto clínico, o histórico do animal e a variação entre exames são fundamentais para a interpretação correta.

Por exemplo, em casos de lesão renal aguda (LRA), até mesmo um aumento de 0,3 mg/dL em 48 horas pode ser considerado diagnóstico, mesmo quando o valor final ainda está dentro da faixa de normalidade.

Além disso, existem outros fatores podem influenciar a leitura:

  • Raças grandes e cães muito musculosos (como galgos) podem apresentar taxas próximas de 2,0 mg/dL sem doença renal.
  • Diferenças entre laboratórios e métodos de análise podem alterar o resultado em até 0,5–1,3 mg/dL para a mesma amostra.
  • Desidratação, obstrução urinária ou alimentação recente também podem elevar temporariamente os níveis sem indicar doença renal crônica.

Quais são os sintomas de creatinina alta em cães?

Cachorro fazendo urina com cheiro forte e amarelada

A creatinina alta em cães está ligada a alterações na função renal e os sintomas aparecem quando os rins perdem a capacidade de filtrar corretamente as toxinas do organismo.

Essa alteração pode ocorrer em dois cenários:

  • Lesão renal aguda (LRA): surge de forma repentina, geralmente causada por intoxicações, obstrução urinária ou desidratação intensa.
  • Doença Renal Crônica (DRC): mais comum em animais idosos, ocorre pela perda progressiva dos néfrons (as unidades funcionais dos rins). A evolução é lenta, mas irreversível, e pode se agravar diante de outros problemas de saúde.

Como os rins exercem funções essenciais para o equilíbrio do organismo, a disfunção renal compromete todo o metabolismo do animal. As manifestações clínicas mais observadas incluem:

Sintomas iniciais

Nos estágios iniciais da doença renal, os sinais podem ser discretos:

Sintomas em estágios avançados

Com a progressão da insuficiência renal, os sintomas se tornam mais evidentes:

Dados de estudos clínicos sobre sintomas em cães com creatinina alta

Um estudo conduzido no Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS analisou 16 cães adultos diagnosticados com transtornos renais. 

Os animais tinham entre 1 e 12 anos, de diferentes raças e portes, e passaram por exames de sangue, urina e avaliações clínicas completas.

Os resultados mostraram que os sintomas mais frequentes foram:

  • Problemas urinários: diminuição do volume de urina (oligúria), presença de sangue na urina (hematúria), urina em excesso (poliúria) e, em casos graves, ausência total de urina (anúria).
  • Sinais de intoxicação urêmica: prostração, falta de apetite (anorexia), dor abdominal, vômitos, diarreia, sangue nas fezes (melena) e úlceras na boca.
  • Sinais sistêmicos: desidratação, emagrecimento acentuado (caquexia), dificuldade para respirar (dispneia), acúmulo de líquido na barriga (ascite), inchaço nas patas (edema periférico), alterações de temperatura corporal e mucosas congestionadas.

Segundo os pesquisadores, as causas variaram entre problemas:

  • pré-renais (como insuficiência cardíaca congestiva);
  • renais (nefrites intersticiais, doença renal crônica, glomerulonefrite, pielonefrite);
  • pós-renais (obstrução urinária e cálculos).

Esses dados reforçam que os sintomas da creatinina alta em cães podem ir muito além da alteração em exames laboratoriais, afetando todo o organismo. Por isso, o diagnóstico deve sempre considerar o conjunto de sinais clínicos e laboratoriais.

O que causa creatinina alta em cães?

Em alguns casos, a alteração da creatinina alta em cães pode ser transitória, mas em outros está ligada a doenças graves que comprometem a vida do animal.

Causas transitórias

  • Desidratação: comum em dias muito quentes ou após episódios de vômito e diarreia, reduzindo a capacidade de filtração renal.
  • Excesso de massa muscular: cães de raças grandes ou muito musculosos podem apresentar níveis naturalmente mais altos (Kaneko et al., 2008).
  • Diferenças individuais: idade e sexo também influenciam, sendo mais baixos em cães jovens e de pequeno porte, e mais altos em machos adultos de grande porte (Gerber & Volkweis, 2017).

Causas clínicas mais sérias

  • Doença Renal Crônica (DRC): enfermidade progressiva e irreversível, mais comum em cães idosos. Um estudo apontou que a média de idade dos cães com insuficiência renal crônica foi de 6,5 a 7 anos (Rubin, 1997).
  • Lesão Renal Aguda (LRA): falha súbita dos rins causada por intoxicações, insolação, infecções ou medicamentos.
  • Infecções urinárias e pielonefrite: quando não tratadas, podem evoluir para inflamação renal.
  • Intoxicações: ingestão de plantas tóxicas, produtos químicos, medicamentos como AINEs (ex.: ibuprofeno) ou até anticongelantes.
  • Doenças imunomediadas e câncer: menos comuns, mas associadas ao desenvolvimento de insuficiência renal crônica.

Raças mais predispostas à doença renal crônica

nomes para beagle

A doença renal crônica (DRC) pode ter origem familiar ou congênita, ou seja, transmitida geneticamente em algumas raças. Pesquisas apontam que cães como Beagle, Doberman, Lhasa Apso e Samoieda, apresentam maior risco de desenvolver a condição (Meak, 2003).

Além disso, outras raças caninas apresentam predisposição à DRC ao longo da vida:

Quais são os estágios da doença renal em cães?

A Sociedade Internacional de Interesse Renal (IRIS) criou um sistema de classificação usado em todo o mundo para avaliar a doença renal crônica (DRC) em cães. 

Essa divisão da doença em fases considera os resultados de exames de sangue (como creatinina e SDMA, molécula excretada pelos rins que funciona como um biomarcador renal específico), urinálise e exames de imagem.

Os estágios da doença renal em cães vão de 1 a 4, sendo que quanto maior o estágio, maior a perda da função renal:

EstágioCreatinina (mg/dL)SDMA (µg/dL)O que significa
1< 1,4< 18Rins ainda funcionam bem. As alterações só aparecem em exames de imagem ou urina diluída. Sem sintomas visíveis
21,4–2,818–35Doença renal leve. O cão pode não ter sintomas ou apresentar perda de apetite e emagrecimento discreto.
32,9–5,036–54Na doença renal moderada, é quando começam a aparecer sintomas mais claros como sede excessiva, vômitos, diarreia e cansaço.
4> 5,0> 54Doença renal grave: sinais intensos, como perda de apetite, fraqueza, perda de peso acentuada. Exige cuidados intensivos.

Essa classificação mostra quão avançada está a doença renal, permitindo ao veterinário definir o tratamento e orientar o tutor sobre os cuidados necessários em cada fase.

Como é feito o diagnóstico da creatinina alta em cães?

O diagnóstico da creatinina alta em cães é feito por exames laboratoriais de sangue e urina, que mostram se os rins estão conseguindo filtrar corretamente as toxinas do organismo. 

Esse conjunto de exames permite ao veterinário identificar alterações precocemente e avaliar a gravidade do problema.

Na prática clínica, os exames mais utilizados no diagnóstico estão:

  • Exame físico: pode revelar sinais como desidratação, mucosas pálidas, dor abdominal ou hipertensão.
  • Bioquímica do sangue: mede substâncias acumuladas quando os rins falham, como creatinina, ureia (BUN), fósforo e eletrólitos (sódio, potássio, cloreto). Em casos avançados, pode indicar anemia.
  • Urinálise: avalia a densidade urinária (capacidade de concentrar a urina) e identifica alterações como proteinúria, sangue ou infecção.
  • SDMA (dimetilarginina simétrica): marcador sensível que pode indicar doença renal antes mesmo da elevação da creatinina.
  • Exames complementares: relação proteína/creatinina urinária (UPC), cultura de urina, avaliação da pressão arterial, ultrassonografia ou radiografias abdominais. Em raros casos, pode ser indicada biópsia renal.

“Apenas o médico veterinário, mediante consulta, exames e histórico do animal, é capaz de diagnosticar se o seu pet está com problemas renais ou não. Lembrando que a creatinina alta é apenas um dos parâmetros para este tipo de doença”, afirma Lysandra Barbieri.

Um desafio importante é que os sinais clínicos e a elevação da creatinina só aparecem quando os rins já perderam entre 50% e 75% da sua capacidade funcional (Baynes & Dominiczak, 2007; Costa et al., 2003). 

Por isso, exames periódicos são fundamentais para diagnóstico precoce.

Como é o tratamento da creatinina alta em cães?

O papel do hospital veterinário na sociedade

A creatinina alta em cães não é uma doença, mas sim um sinal de que algo está errado no organismo, principalmente nos rins.

Portanto, não existe um “remédio para baixar a creatinina”. O tratamento busca atrasar a progressão da doença no rins dos cães, reduzir os sintomas e manter o equilíbrio metabólico (MEAK, 2003).

Por exemplo, a doença renal crônica (DRC) é irreversível, mas pode ser controlada com acompanhamento contínuo. Já a lesão renal aguda (LRA) pode ter recuperação parcial ou até total se tratada rapidamente. 

Cada caso é único, e a terapia deve ser adaptada ao estágio da doença e às necessidades do paciente. Entre as principais abordagens estão:

  • Soro e fluidoterapia: hidratação com soro na veia (intravenosa) ou sob a pele (subcutânea) ajuda os rins a eliminar toxinas e pode recuperar parte da função em quadros reversíveis.
  • Alimentação especial: dietas renais prescritas reduzem a sobrecarga dos rins, controlam fósforo e proteínas e ajudam a retardar a progressão da doença.
  • Medicações de apoio: controlam sintomas como vômito, diarreia, falta de apetite e pressão alta. Também podem incluir protetores renais, anti-hipertensivos e suplementos para equilibrar minerais.
  • Exames de acompanhamento: monitorar ureia, creatinina, fósforo, eletrólitos, pressão arterial e ultrassonografia são essenciais para ajustar o tratamento.
  • Diálise (casos graves): usada em poucos centros veterinários, indicada em insuficiência renal avançada quando os rins já não conseguem filtrar o sangue.

Tratamento para os estágios IRIS da doença renal crônica em cães

Segundo o IRIS Pocket Guide, conteúdo organizado pela Sociedade Internacional de Interesse Renal, o tratamento da doença renal crônica em cães é orientado de acordo com os estágios. As recomendações gerais para cada fase são:

EstágioFoco do tratamento
1Monitorar exames, corrigir desidratação, evitar medicamentos tóxicos para os rins.
2Monitorar exames, corrigir desidratação, evitar medicamentos tóxicos para os rins.
3Dieta renal rigorosa, fluidoterapia, controle do fósforo, uso de medicamentos de suporte (antieméticos, anti-hipertensivos).
4Cuidados de suporte intensivo: fluidoterapia frequente, múltiplos medicamentos, suplementos e, em alguns casos, diálise.

Como prevenir a creatinina alta em cães?

A prevenção da creatinina alta passa por cuidados simples no dia a dia dos cães:

  • Consultas de rotina e check-ups anuais, ou semestrais no caso de pets idosos, permitem identificar alterações renais precocemente.
  • Hidratação adequada, com água fresca sempre disponível, é essencial para a saúde dos rins.
  • Alimentação de qualidade, preferencialmente orientada pelo veterinário, ajuda a reduzir a sobrecarga renal.
  • Evitar a automedicação e impedir que o cão tenha acesso a substâncias tóxicas, já que muitos medicamentos, plantas e produtos químicos podem causar lesão renal.

Perguntas frequentes

Níveis de creatinina acima de 3 em cachorro é grave?

Sim, valores acima de 1,5 mg/dL já indicam alteração renal e, quando passam de 3, o quadro costuma ser considerado grave, exigindo acompanhamento veterinário imediato.

Como baixar a creatinina em cães?

Não existem remédios caseiros ou específicos para isso. A redução só é possível com tratamento veterinário, que pode incluir fluidoterapia, dieta renal e medicamentos de suporte.

Qual a relação entre creatinina e ureia alta em cães?

De forma simples: a ureia indica a capacidade de filtração dos rins, enquanto a creatinina reflete a perda ou comprometimento da função renal.

A ureia também atua como outro marcador importante da função renal. Quando creatinina e ureia aparecem altas ao mesmo tempo nos exames, aumenta a suspeita de lesão ou insuficiência renal. 

O cachorro pode tomar creatina?

Não, a creatina é um suplemento alimentar desenvolvido para humanos e pode sobrecarregar os rins dos cães. É importante não confundir:

  • Creatina: suplemento alimentar.
  • Creatinina: substância avaliada nos exames laboratoriais para medir a função renal.
Filhote de cachorro da raça pug deitado tranquilamente em um sofá cinza, com expressão relaxada e cercado por fundo de parede branca de tijolos.

O conteúdo te ajudou? A creatinina alta em cachorro é sempre um sinal de alerta que deve ser investigado com exames e acompanhamento veterinário. O diagnóstico precoce faz toda a diferença para preservar a função renal e garantir qualidade de vida ao pet.

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Fontes técnicas:

  • Poppl RM. Função renal em cães e gatos. UFRGS, 2014.
  • Universidade Federal de Pelotas (2021). Efeito da massa corporal na bioquímica sanguínea de cães.
  • Universidade Federal de Uberlândia (2019). Bioquímica Sanguínea em Cães.
  • ESFA (2020). Trabalho de conclusão em Veterinária – Creatinina e função renal.
  • IRIS – International Renal Interest Society.
Lysandra Barbieri

Com colaboração: Lysandra Barbieri

Médica-Veterinária

Formada em Medicina Veterinária pela UNESC - Campus Colatina, Lysandra é apaixonada pelos seus pets adotados: Pretinha, Cabrita e Tuí. Cada um deles reforça sua dedicação à Medicina Veterinária e reflete seu amor pelos animais.

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3 Comentários

  1. Rosa tieko tanaka esilva disse:

    Gostei das informações didáticas apresentadas

  2. Matilde Maria Meneses Ferreira Machado disse:

    Obrigada pelas informações.

  3. Matilde Maria Meneses Ferreira Machado disse:

    Obrigada pelo esclarecimento.

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